Com Itasat
Quarenta e seis migrantes foram encontrados mortos na segunda-feira (27), dentro e ao redor de um caminhão abandonado à margem de uma estrada em San Antonio, Texas, uma das piores tragédias do tipo nos últimos anos nos Estados Unidos.
A descoberta aconteceu cinco anos após um incidente fatal com características similares na mesma cidade do Texas, que fica a poucas horas da fronteira com o México.
"Até o momento registramos 46 corpos", disse o comandante dos bombeiros de San Antonio, Charles Hood.
Ele informou que 16 pessoas - 12 adultos e quatro crianças - foram levadas para o hospital.
"Os pacientes que vimos estavam quentes ao toque, estavam sofrendo de insolação, exaustão pelo calor, pois não havia indícios de água no veículo. Era um caminhão refrigerado, mas não havia unidade de ar condicionado visível em funcionamento", disse Hood.
As autoridades anunciaram que três pessoas foram detidas pelo incidente.
"Esta noite estamos enfrentando uma horrível tragédia humana", lamentou o prefeito de San Antonio, Ron Nirenberg, em uma entrevista coletiva.
"Por isso, peço a todos que pensem com compaixão e rezem pelos falecidos, pelos feridos, pelas famílias", disse. "E esperamos que os responsáveis por colocar estas pessoas em condições tão desumanas sejam processados em todo o rigor da lei".
O papa Francisco expressou nesta terça-feira sua "dor" pelas tragédias com migrantes, em referência ao que aconteceu no Texas e às mortes de dezenas de pessoas na semana passada quando tentavam entrar na cidade espanhola de Melilla.
San Antonio, a 250 km da fronteira, é uma importante rota de trânsito para traficantes.
A cidade sofre com uma onda de calor, que na segunda-feira chegou a 39,5 ºC.
O veículo foi encontrado em uma estrada perto da rodovia I-35, que segue de maneira direta até a fronteira com o México.
Uma grande operação de emergência foi mobilizada com a presença de policiais, bombeiros e ambulâncias.
O chefe de polícia de San Antonio, William McManus, afirmou que as autoridades foram alertadas às 17H50 locais.
"Um funcionário de um dos edifícios atrás de mim ouviu um grito de socorro", disse. "(Ele) saiu para investigar, encontrou um contêiner com as portas parcialmente abertas, ele abriu para dar uma olhada e encontrou vários indivíduos falecidos".
A investigação foi repassada ao Departamento de Segurança Interna (DHS), que anunciou em um comunicado o início de uma ação contra "um suposto tráfico de pessoas".
Quase 60 bombeiros foram enviados ao local e devem receber apoio psicológico, confirmou Charles Hood. "Não estamos preparados para abrir um caminhão e ver diversos corpos lá", explicou.
O governador do Texas, Greg Abbott, republicano que defende a linha dura contra a migração, atacou o presidente Joe Biden e culpou as "mortais políticas de fronteiras abertas" do democrata.
"Estas mortes estão na conta de Biden", tuitou Abbott.
Seu rival democrata nas eleições de novembro, Beto O'Rourke, defendeu uma "ação urgente" após o incidente. Ele pediu ao governo para "desmantelar as redes de tráfico de pessoas e substituí-las por avenidas expandidas para a migração legal" que reflitam os valores e as necessidades do país.
O ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, lamentou a tragédia. Ele disse que as nacionalidades das vítimas não foram determinadas, mas que entre os sobreviventes estão dois guatemaltecos.
Caminhões como o encontrado em San Antonio são um meio de transporte amplamente utilizado por migrantes que buscam entrar nos Estados Unidos.
A viagem é extremamente perigosa, principalmente porque os veículos desse tipo geralmente não possuem sistemas de ventilação ou refrigeração.
"O Senhor tenha misericórdia deles. Esperavam uma vida melhor", escreveu no Twitter o arcebispo de San Antonio, Gustavo Garcia-Siller.
"Mais uma vez, a falta de coragem para lidar com uma reforma migratória está matando e destruindo vidas.
Tragédia repetida
San Antonio foi cenário de uma tragédia similar em 2017, quando 10 pessoas morreram sufocadas em um contêiner que seguia para os Estados Unidos. O ar condicionado do caminhão estava danificado e o espaço de ventilação coberto.
Dezenas de pessoas foram hospitalizadas por insolação e desidratação, embora se acredite que o caminhão transportasse até 200 pessoas - a maioria fugiu quando o veículo parou em um estacionamento.
O motorista do caminhão, que alegou não saber que transportava mais de 100 pessoas no veículo, foi condenado em abril de 2018 à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.