Ciência de dados: 'Centavos Celestes' podem render ao Cruzeiro mais que trocos

Por O Tempo

O programa 'Centavos Celestes', lançado pelo Cruzeiro recentemente, é uma das apostas da diretoria para angariar fundos visando ao pagamento de dívidas na Fifa. A iniciativa rendeu aquela cutucada dos rivais do time celeste, mas baseia-se em algo muito estudado por várias corporações: a ciência de dados. 

Um artigo publicado pelo site 'Unum', especializado em educação financeira e tecnológica, aponta que a campanha vai muito além do que absorver os centavos de trocos dos torcedores, mas permite ao Cruzeiro a possibilidade de saber os dados e comportamentos de seus torcedores. De modo geral, essa tecnologia é aquela que deixa muita gente 'encucada' quando se busca algo relacionado à compras, por exemplo, e o Google é capaz de programar comerciais com aquela procura. Daí que vem a pergunta: 'será que estão me espionando?'. Por vezes, parece até algo mental. 

"Sabendo dos dados e comportamento de seus torcedores, o time poderá, através da mídia programática, oferecer produtos, ofertas e benefícios para os torcedores e lucrar muito mais que alguns centavos de seus cartões de crédito", destaca a publicação. 

Essas informações, garantindo a segurança dos usuários, não ficam de posse do Cruzeiro, mas sim da empresa que gerencia a plataforma. O Cruzeiro ressalta que está seguindo todos os processos de segurança da informação, e salienta que o usuário é soberano no processo. 

Faturando com os dados

Essa é a ferramenta da ciência de dados, uma vez que o torcedor, ao se cadastrar, oferece informações que são utilizadas por uma empresa de dados que auxilia o Cruzeiro nas tendências de consumo e outras movimentações do indivíduo. No caso do Cruzeiro, esse serviço é feito pela inCENTive, empresa do ramo de tecnologia com foco no aumento de engajamento do vendedor. A startup conta com a parceria da Mastercard. 

Alberto André, CEO do Plusdin, site de indicação de produtos financeiros como conta digital, cartões de crédito e empréstimos, explica como é possível transformar esses dados em lucro para o clube. Um dos primeiros pontos é a paixão gerada pelo futebol e o que esse potencial pode gerar. 

“O grande benefício de uma campanha como essa é que você já parte de um ponto de partida em que você conhece uma das grandes paixões da pessoa que está se cadastrando, o time Cruzeiro. Dessa maneira, se você consegue ter acesso a dados específicos de compra, de uma cultura de gasto do torcedor, você consegue criar campanhas e anúncios direcionados de marketing muito mais assertivos”, apontou Alberto ao Unum. 

Essa prática influencia até mesmo o retorno do clube com um patrocínio, já que o Cruzeiro será capaz de produzir ações mais direcionadas, aumentando o valor de suas propriedades. 

“Por se tratar de um time de futebol, o Cruzeiro pode utilizar essa tecnologia de dados como uma espécie de moeda para aumentar o valor de um possível patrocínio, já que o clube terá condições de fazer anúncios totalmente direcionados”, prosseguiu Alberto. 

O executivo ainda ressaltou um último fator que pode ser explorado pelo Cruzeiro. "O clube pode se tornar uma DMP (Data Management Platform), onde o time faria apenas a gestão de dados, disponibilizando os cadastros dos torcedores para compra de empresas. Ou seja, o Cruzeiro utilizaria sua inteligência de dados para fazer anúncios de produtos e assim ganharia dinheiro pelo CPM (Custo por milhar). Já que tendo acesso a todas essas informações de seu torcedor, todo o processo de compra de espaço publicitário fica mais barato e efetivo para o clube, aumentando assim, o lucro das conversões”, finalizou Alberto André. 

Mas além das múltiplas possibilidades com a ciência de dados, a iniciativa pode render boas quantias financeiras ao clube. O presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, promete tornar público os valores que o clube arrecadará com o programa "Centavos Celestes", cifras que vão se juntar à outra iniciativa de doações do clube, a Operação Fifa, que está sendo feita via "MeepDonate".