Por Itasat
Em reunião extraordinária realizada na noite desta terça-feira, o Conselho Deliberativo do Cruzeiro aprovou, com ressalvas, o balanço financeiro do clube de 2019, último ano da gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá e que registrou um incrível prejuízo de R$ 394 milhões. O déficit aumentou a dívida total da Raposa para R$ 803 milhões.
Antes do início da votação, no salão nobre do Parque Esportivo do Barro Preto, em Belo Horizonte, o presidente Sérgio Santos Rodrigues explicou que se as contas fossem rejeitadas pelo Conselho Deliberativo, o clube seria punido com o corte de recebimento de verbas federais, de acordo com a Lei Pelé, e inviabilizaria o retorno do Cruzeiro ao Profut, programa criado em 2015 pelo governo federal que permite aos clubes o parcelamento das dívidas fiscais.
“A gente vê diversas manifestações sendo colocadas a cerca de uma eventual reprovação das contas que estão sendo submetidas ao Conselho Deliberativo. A aprovação de contas não quer dizer que a gente concorde com a qualidade das contas e que a gente concorda como os gastos foram feitos. A gente está querendo dizer que o que está colocado no papel reflete como o gasto foi feito. Essa é uma questão técnica importante. E vou além. A reprovação das contas, de acordo com a Lei Pelé, artigo 18-A, alínea F [...], acarreta com a punição de que nós não possamos receber verba federal e vai praticamente inviabilizar a nossa volta ao Profut. E a gente tem muita confiança de que vai voltar”, afirmou.
“Então, eu pedi licença ao presidente (do Conselho Deliberativo) Paulo Pedrosa, a gente conversou durante essa semana, para sugerir, eu sei que outros vão se manifestar, que a gente aprove as contas para que o Cruzeiro não seja penalizado, mas, obviamente, (aprove) com ressalva. Ressalva de quê? De como os gastos foram feitos, pelo valor dos gastos que são absurdos, mas que a gente não concorda com esses gastos”, completou.
Mesmo assim, a aprovação das contas, com ressalvas, não foi unânime. Cinco conselheiros não seguiram a sugestão do presidente e rejeitaram o balanço.
A reunião ficou tensa quando conselheiros tiveram a palavra. Alguns deles pediram para votar também pela exclusão dos ex-dirigentes da gestão passada, o que foi recusado. Outros questionaram a continuidade no clube de integrantes que estivam no Conselho Fiscal no ano passado, quando houve o rombo financeiro. As referências eram à Paulo César Pedrosa e Nagib Simões, que eram do órgão em 2019 e declararam que não havia nada de errado nas contas do então presidente Wagner Pires de Sá, e que atualmente integram a mesa diretoria do Conselho Deliberativo.
Outros números do balanço
O prejuízo de R$ 394 milhões é cinco vezes superior ao registrado em 2018, quando a Raposa teve perda de R$ 73,8 milhões.
As contas do ano passado foram auditadas pela empresa Moore. No relatório, a corporação diz que há "dúvida quanto à capacidade de continuidade operacional do clube" diante dos "déficits consecutivos apresentados".
A receita líquida do Cruzeiro caiu no ano passado, registrando R$ 280.799.767 contra R$ 329.118.994 em 2018. Ao mesmo tempo, as despesas com o futebol, clubes sociais e esportes amadores saltaram de R$ 327.262.691 no balanço anterior para R$ 477.230.065. Aumento de R$ 150 milhões.
Em relação à receita operacional bruta, o Cruzeiro registrou queda em quase todos os quesitos do ano retrasado para a temporada passada: caiu de R$ 190,7 milhões para R$ 105,7 milhões (publicidade e transmissões de TV), redução de R$ 32,5 milhões para R$ 18,1 milhões (patrocínios/royalties), diminuição de R$ 23,9 milhões para R$ 18,3 milhões (bilheteria), de retração de R$ 23,1 milhões para R$ 14,1 milhões (sócio-torcedor). Apenas a arrecadação com direitos econômicos / cessão temporária de jogadores foi maior: R$ 108,1 milhões contra R$ 45,9 milhões. O item chamado de “outras receitas” também apresentou superávit em relação à 2018: R$ 3 milhões contra R$ 2,5 milhões.
Os gastos com salários no clube também chamam a atenção. Os valores praticamente dobraram de 2018 para 2019. Há dois anos, o Cruzeiro desembolsou R$ 26,5 milhões com vencimentos. Na temporada passada, os custos foram para R$ 50,4 milhões. Acrescentando férias e encargos trabalhistas e rescisões contratuais parceladas, o clube gastou R$ 62,6 milhões no total contra R$ 30,4 milhões em 2018.
No balanço, a Moore faz diversas considerações citando a readequação salarial no clube, com a diferença de pagamentos de salários de jogadores ficando para 2021, a pandemia do novo coronavírus, que afetou as receitas, a obtenção da liminar que garantiu o retorno ao Profut (que acabou derrubada posteriormente), a investigação da Polícia Civil e do Ministério Público contra ex-dirigentes e o relatório de investigação da consultoria Kroll que levantou os gastos na gestão de Wagner Pires de Sá.
Por fim, a Moore frisa que há ressalvas no balanço, pois os R$ 27 milhões apresentados como gastos de formação de atletas não apresentaram "evidência suficiente e apropriada". Em outro ponto, a empresa destaca que R$ 32,9 milhões relativos à amortização de valores de atletas profissionais, referente a exercícios anteriores, deveriam ter sido corrigidos por "representação retrospectiva".