O secretário da Defesa dos Estados Unidos (EUA), Mark Esper, negou no começo da noite de ontem que as forças americanas deixarão o Iraque, depois de um general americano ter informado em carta ao governo iraquiano que as tropas estacionadas no país estariam se preparando para partir. “Não há qualquer decisão de deixar o Iraque... Não foi tomada nenhuma decisão de deixar o Iraque. Ponto final”, disse Esper, um dia depois de o Parlamento iraquiano votar a favor de uma determinação para a saída militar americana.
“A carta é inconsistente com o ponto em que estamos agora”, destacou Mark Esper. O desmentido joga mais água na fervura das tensões entre os EUA e o Irã, após o presidente norte-americano, Donald Trump, ter autorizado ataque que matou o comandante militar iraniano Qassem Soleimani e seu braço-direito Abu Mahdi al-Muhandis.
Uma multidão prestou homenagem ontem ao general Soleimani nas ruas de Teerã, clamando vingança pela morte do comandante e seus companheiros de armas no ataque americano no Iraque. Soleimani, arquiteto da política expansionista iraniana no Oriente Médio como chefe da força Al Quds, dos Guardiães da Revolução, morreu na sexta-feira em um atentado com um drone perto do aeroporto de Bagdá.
Diante do temor de uma explosão do conflito, os embaixadores dos países da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan), a aliança militar do Ocidente, se reuniram ainda ontem em Bruxelas, e os ministros das Relações Exteriores da União Europeia o farão nesta sexta-feira na capital belga. Enquanto isso, a chanceler alemã, Angela Merkel, analisará a situação com o presidente russo, Vladimir Putin, neste sábado em Moscou. “Em nossa reunião, os aliados pediram moderação e distensão. Um novo conflito não beneficiará ninguém, razão pela qual o Irã deve se abster de mais violência e provocações”, declarou o chefe da Otan, Jens Stoltenberg.
Em Teerã, uma maré humana invadiu as avenidas Enghelab (“Revolução” na língua persa), Azadi (“Liberdade”) e seus arredores, com bandeiras vermelhas (cor do sangue dos “mártires”) ou iranianas, mas também libanesas e iraquianas. Visivelmente emocionado, o aiatolá Khamenei pronunciou breve oração em árabe na universidade de Teerã, diante dos caixões de Soleimani, do iraquiano Abu Mehdi Al Muhandis (número dois da coalizão paramilitar pró-iraniana Hashd Al Shaabi) e de outros quatro iranianos mortos no mesmo ataque.
O líder supremo e outros dirigentes presentes, como o presidente Hassan Rohani e o general Hossein Salami, comandante da Guarda Revolucionária, deixaram rapidamente o local, antes de o cortejo abrir caminho com dificuldade entre a multidão para chegar à praça Azadi. Dali, o caixão com o corpo de Soleimani foi levado de avião para a cidade santa xiita de Qom para uma cerimônia. O general será enterrado hoje em Kerman, ao Sudeste do país, sua cidade natal.