Por Itasat
Se no presente o 30 de novembro significa para o Cruzeiro um confronto direito na tentativa de sair da zona de rebaixamento da Série B contra o Londrina, nesta sexta-feira, às 21h30, no Mineirão, no passado, mais especificamente há 45 anos, marca um dos capítulos mais importantes da história do clube: a conquista da Copa Libertadores de 1976 sobre o River Plate, da Argentina, no Estádio Nacional, em Santiago, onde foi disputada a partida desempate entre as duas equipes.
A conquista da América pela Raposa, façanha que entre os clubes brasileiros só o Santos, de Pelé, tinha alcançado até então, em 1962 e 1963, foi fruto de uma das campanhas mais espetaculares da história da competição.
E essa caminhada começou com aquele que é considerado o maior jogo da história do Mineirão. Em 7 de março de 1976, Cruzeiro e Internacional se reencontraram menos de três meses após a vitória colorada por 1 a 0, no Beira-Rio, na decisão do Campeonato Brasileiro de 1975.
Com uma atuação espetacular de Joãozinho, a Raposa venceu por 5 a 4 numa partida em que nunca esteve atrás no placar, mas que só alcançou a vitória aos 40 minutos do segundo tempo, com Nelinho convertendo pênalti sofrido pelo ponta-esquerda, que já tinha dado uma assistência para Palhinha e balançado a rede de Manga duas vezes.
Naquela época, apenas o primeiro colocado de cada grupo seguia na competição, já passando às semifinais, que eram disputadas em dois triangulares, com ida e volta.
Cruzeiro e Internacional eram os grandes times do Grupo 3 da primeira fase, que contava ainda com os paraguaios Olimpia e Sportivo Luqueño. E a vaga nas semifinais foi assegurada pela Raposa com nova vitória sobre o Colorado, dessa vez dentro do Beira-Rio, por 2 a 0, com gols de Jairzinho e Joãozinho, em 28 de março de 1976.
Roberto Batata
Nas semifinais, LDU, do Equador, e Alianza, do Peru, não foram páreo para o Cruzeiro, que venceu os quatro jogos que disputou marcando 18 gols, média de 4,5 por partida. Mas a caminhada rumo à decisão esteve longe de ser fácil.
Após os 4 a 0 sobre o Alianza, em Lima, em 12 de maio, pela segunda rodada do Grupo A, aberta com um gol de Roberto Batata, o ponta-direita, criado na base do celeste, morreu num acidente automobilístico na Rodovia Fernão Dias.
Logo após o desembarque, Roberto Batata pegou seu carro, um Chevette, e seguiu para Três Corações, no Sul de Minas, para buscar a esposa e o filho. No quilômetro 182 da Fernão Dias sofreu um acidente fatal.
No dia 20 de maio, Cruzeiro e Alianza estavam em campo novamente, abrindo o returno, com o time ainda sofrendo pela perda do companheiro, homenageado em campo com um 7 a 1 sobre os peruanos. Ponta-direita, Batata carregava nas costas exatamente o número 7 e o placar esteve longe de ser uma coincidência. O resultado praticamente garantiu a presença celeste na decisão.
Final
Vencedor do Grupo B das semifinais, após eliminar o rival Independiente, que tinha conquistado as últimas quatro edições da Copa Libertadores (1972 a 1975), o adversário cruzeirense na decisão foi o River Plate, da Argentina, base da seleção do seu país que seria campeã do mundo dois anos depois jogando em casa.
A briga pela taça começou no Mineirão, em 21 de julho de 1976, com uma goleada celeste por 4 a 1, com dois gols de Palhinha, artilheiro daquela edição de Libertadores com 13 bolas na rede.
Uma semana depois, num jogo polêmico, os argentinos venceram por 2 a 1, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires. Isso forçou a realização do jogo-desempate, pois naquela época o saldo de gols não era considerado na decisão.
O terceiro jogo entre Cruzeiro e River Plate foi disputado em 20 de novembro de 1976, no Estádio Nacional, em Santiago. E foi decidido justamente por Joãozinho, o craque que tinha desequilibrado a primeira partida da Raposa na competição, os 5 a 4 sobre o Internacional, no Mineirão.
Nelinho abriu o placar aos 24 minutos do primeiro tempo, com Eduardo fazendo 2 a 0 aos 10 da etapa final. A taça parecia encaminhada, mas numa decisão entre brasileiros e argentinos nunca há facilidade e o River Plate buscou o empate, com gols de Oscar Más, aos 13, e Urquisa, aos 17.
Na reta final do confronto, uma falta para o Cruzeiro. Naquele tempo, Nelinho talvez fosse o maior chutador do futebol sul-americano, mas quem surpreendeu o goleiro Landaburu, já aos 43 minutos, foi Joãozinho, num lance inesquecível em que conseguiu unir toda sua qualidade técnica com a malandragem que o transformou num “bailarino”.
A América era do Cruzeiro. O futebol mineiro ganhava sua primeira taça internacional oficial. O 30 de novembro entrava para sempre no calendário cruzeirense.
O JOGO DO TÍTULO
CRUZEIRO 3
Raul; Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Vanderlei; Piazza (Valdo) e Zé Carlos; Ronaldo, Eduardo, Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreira
RIVER PLATE 2
Landaburu; Comelles, Lonardi, Ártico e Urquisa; Sabella, Merlo e Alonso; Pedro González, Luque e Oscar Más (Crespo). Técnico: Angel Labruna
DATA: 30 de julho de 1976
LOCAL: Estádio Nacional (Santiago)
GOLS: Nelinho, aos 24 minutos do primeiro tempo; Eduardo, aos 10, Oscar Más, aos 13, Urquisa, aos 17, e Joãozinho, aos 43 minutos do segundo tempo
ÁRBITRO: Alberto Martínez (Chile)
CARTÃO VERMELHO: Ronaldo (Cruzeiro); Alonso (River Plate)
PÚBLICO: 35.182
RENDA: Cr$ 653.331,00