Por Itasat
Líderes de todo mundo condenam a operação militar da Rússia na Ucrânia, iniciada na noite dessa quarta-feira (21). Mas qual a origem dessa crise? Por que o presidente Vladimir Putin decidiu invadir o país vizinho neste momento? A crise entre Rússia e Ucrânia envolve também Estados Unidos e Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e tem origem no fim da Guerra Fria. Com o enfraquecimento dos regimes comunistas no Leste Europeu, a aliança militar entre europeus e americanos avançou rumo a leste, com países que antes eram da esfera soviética passando à zona de influência ocidental.
Desde 2000, quando chegou ao poder na Rússia, Putin iniciou uma reação para impedir a expansão para o leste. O presidente russo justifica que a medida é necessária para defesa estratégica de seu país.
Com esse cenário, a Rússia trabalhou inicialmente para desestabilizar governos pró-Ocidente na Ucrânia e no Caucaso, ainda na primeira década deste século. Com o avanço da Otan na região, Putin iniciou, em 2007, operações militares contra a Geórgia, em 2008, e contra a Ucrânia, com a anexação da Crimeia em 2014.
No final do ano passado, o presidente russo mobilizou militares e linhas de suprimento na fronteira, para pressionar a Otan a desistir de avançar para as ex-repúblicas soviéticas, e até mesmo, a retirar tropas de países como Bulgária e Romênia.
Por que a Ucrânia?
Em entrevista recente à Agência Brasil, o professor aposentado de História Contemporânea da Universidade de Brasília, Antônio Barbosa, explicou que a expansão da Otan é encarada pela Rússia como uma ameaça militar. “Uma ameaça para sua própria integridade territorial”, aponta. Para os russos, conforme explica o professor, a Ucrânia é um território com o qual eles podem impedir o avanço das forças militares ocidentais. Ele compara aos países bálticos - Letônia, Estônia e Lituânia - que foram incorporados ao tratado militar e à União Europeia. “Mas eles são países que historicamente têm uma relação forte com o resto da Europa, muito próxima ao Ocidente, em termos de comércio, em termos de cultura. Os russos não tinham como resistir.”
A situação é diferente na Ucrânia. “Basicamente a metade leste do país tem uma história muito ligada à Rússia e uma presença muito grande de pessoas que falam russo, com origem étnica russa, quer dizer os laços históricos ali realmente são todos voltados para a Rússia”, explica. A metade oeste, no entanto, tem uma história mais ligada ao Ocidente. “É um território que, em vários momentos da história, fez parte do império Habsburgo ou fez parte da Polônia. É outra cultura, outra tradição histórica, então a Ucrânia é, ela mesma, muito dividida com relação a para onde ele vai.”
Qual o risco para países europeus?
A manutenção da estrutura de segurança que ajudou a manter a paz no continente desde o fim da 2ª Guerra é o maior risco para a Europa, principalmente para potências como França, Alemanha e Reino Unido. Além disso, a Europa tem importantes laços comerciais com a Rússia e perderia muito mais do que os Estados Unidos com as sanções impostas após a invasão russa da Ucrânia. Também depende do fornecimento de gás russo.
“Na eventualidade de um conflito armado naquela região, a Rússia poderia suspender o fornecimento deste gás, que é vital. Um dos países que mais sofreria com isso é a Alemanha, o que talvez explique o fato de que, ao contrário do Reino Unido e ao contrário da França, a Alemanha, até o presente momento, não abriu a boca para contestar Putin”, destacou o professor.
Santoro levanta um ponto de dúvida, no entanto, sobre o novo governo de Olaf Scholz, primeiro-ministro alemão que assumiu fazendo críticas à antecessora Angela Merkel por não dar atenção suficiente às questões de direitos humanos na Rússia e na China. “Até que ponto eles são capazes de alterar o que tem sido a política tradicional alemã”, questiona o professor da Uerj.
No caso do Reino Unido, Santoro destaca dois aspectos que fazem o país assumir postura mais bélica. “Um deles é porque o laço econômico não é tão forte, então eles podem se dar o luxo de um discurso mais duro. O outro é o momento político que o governo britânico [do primeiro-ministro Boris Johnson] enfrenta atualmente”, destaca.
Reflexos no Brasil
Efeitos econômicos negativos devem ser o principal reflexo para o Brasil em caso de uma guerra de proporções mundiais no Leste Europeu. “É uma economia rigorosamente globalizada. Os efeitos vão se fazer sentir. Quer um exemplo? No preço do barril do petróleo. A Rússia é um dos três maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo”, exemplifica Barbosa.
Santoro lembra que a região leste da Europa não é comercialmente relevante para o Brasil. “Nós não temos nenhum grande interesse nacional diretamente envolvido na Ucrânia, nessas disputas de fronteira. Agora nós somos afetados pelos impactos para a economia global de tudo que está acontecendo ali”, aponta. Para ele, o Brasil deve manter uma postura diplomática mediadora e de busca de soluções pacíficas.