Por Itasat
Empurra mala, arruma o carrinho de bebê, organiza os documentos, compra passagem e negocia carona. A ucraniana Yana Solhohab, de 38 anos, é só uma, mas precisa fazer o papel de vários para conseguir tirar as filhas Myosin, de 13, e Aysha, de 1 ano e dois meses, com segurança da Ucrânia e seguir para a Polônia, onde a guerra com a Rússia ainda não chegou.
Pouco mais de 24 horas antes do Dia Internacional da Mulher, a Itatiaia acompanhou o drama de Yana pelas ruas de Lviv, na Ucrânia, em busca de ajuda para seguir a vida longe da guerra.
Mãe solteira, ela, que trabalhava como secretária em Kiev até a última sexta-feira (5), contou à reportagem que o pai de Myosin faleceu há cinco anos, enquanto o de Aysha sumiu após receber a notícia da gravidez. "Ele disse que não tinha interesse em ser pai naquele momento, e nunca ajudou", conta a, agora, refugiada.
Yana diz que decidiu por deixar Kiev em direção a outro país após viver dias de medo ouvindo os barulhos de bombas próximos ao seu apartamento. "O meu apartamento ficava mais ou menos a uns dois quilômetros de distância de onde tinham explosões. E eu não queria ficar ouvindo aquilo, eu não queria minhas filhas ouvindo isso todo dia, deixando minha bebê perto daquilo. Por isso saí, não quero ter problemas por conta dessa guerra", explica, na esforçada tentativa de falar inglês.
Auxiliando a mãe a cuidar da irmã menor, Myosin é curiosa e também aproveita para mostrar que aprendeu inglês na escola em Kiev. Em competições mirins na região da capital ucraniana, a menina chegou a ser medalhista em apresentações de ginástica rítmica. É outra com a vida alterada de forma brusca por conta da guerra. Perguntada se estará nas próximas Olimpíadas disputando o esporte, ela responde com entusiasmo: "vou tentar".
No perfil que se vê chegando na fronteira da Polônia, quase todos os refugiados ucranianos são, na verdade, ucranianas. Com a diferença grande no número de militares ativos no exército russo e no da Ucrânia, os homens ucranianos com idade entre 18 e 60 anos foram convocados para servir e auxiliar a defesa do país. Isso gerou o cenário de ampla chegada de mulheres acompanhadas, sozinhas, de crianças.
Para recebê-las em Lublin, maior cidade polonesa perto da fronteira da Ucrânia, está a ativista social Alicia Orzechowska, coordenadora do grupo de apoio aos refugiados no município.
Trabalhando em um prédio público no centro de Lublin, Alicia comanda uma equipe de 17 pessoas que, entre outras atividades, coletam doações, organizam transporte e viabilizam moradias temporárias para os refugiados.
"Damos todo tipo de ajuda na fronteira. Existem alguns pontos de recepção dessas pessoas. O governo fornece alguma ajuda, com comida, água e acomodação. É uma grande comunidade", afirmou.
Orzechowska também pontuou sobre o suporte de idioma para quem chega ao país sem saber se comunicar na língua local. "Temos voluntários que sabem muitas línguas. Pessoas de todos os lugares. Polonês, inglês, ucraniano e russo. É uma grande estrutura. E, além disso, colocamos intérpretes nas paradas de trens e ônibus, além de colocar nas acomodações também".
Em uma guerra que não foi iniciada por mulheres, elas são vítimas, mas também postos essenciais para o reparo do dano gerado pelo conflito.