Por Itasat
O presidente americano, Joe Biden, autorizou nesta quarta-feira (16), uma ajuda militar maciça para a Ucrânia, pouco depois de o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, implorar ao Congresso dos Estados Unidos pela criação de uma zona de exclusão aérea sobre o seu país, um pedido que não foi atendido.
"Você é o líder de uma nação, da sua grande nação. Espero que você seja o líder do mundo. Ser o líder do mundo é ser o líder da paz", afirmou Zelensky, ao se dirigir a Biden durante um discurso por videoconferência retransmitido ao vivo no Congresso e em todas as emissoras de televisão do país.
Pouco depois, Biden confirmou uma ajuda militar adicional de US$ 800 milhões à Ucrânia, o que representa um pacote "sem precedentes" de US$ 1 bilhão no espaço de uma semana para ajudar o exército ucraniano a se defender das tropas russas que invadem o país.
Contudo, como era de se esperar, Biden não atendeu ao pedido de estabelecer uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia porque, para Washington, isto levaria a um confronto direto com a Rússia e, como disse o próprio Biden em outra ocasião, à "Terceira Guerra Mundial".
O presidente americano prometeu ajudar o exército ucraniano a conseguir equipamentos mais eficazes, como sistemas de defesa antiaérea de "alcance mais longo", como foi pedido por Kiev, para combater a invasão decretada pelo chefe de Estado russo, Vladimir Putin, a quem Biden tachou de "criminoso de guerra" e "autocrata" nesta quarta-feira.
Ajuda militar
Gregory Meeks, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes, esclareceu na emissora CNN que se trata dos "S-300", sistemas russos de mísseis terra-ar, que poderiam ser enviados à Ucrânia por outros países-membros da Otan.
A Ucrânia também receberá 800 sistemas de defesa antiaérea "Stinger", 9.000 sistemas antitanque, cerca de 7.000 armas leves, 20 milhões de munições e drones.
Pearl Harbor, 11 de Setembro
Zelensky falou pela primeira vez diante do plenário do Congresso dos Estados Unidos, após uma iniciativa semelhante nos parlamentos britânico e canadense.
Em um tom grave e raivoso em alguns momentos, o presidente ucraniano implorou aos Estados Unidos e a seus aliados ocidentais que fizessem mais para salvar o seu país da invasão russa, lembrando-os dos períodos mais sombrios de sua história.
"Em sua grande História, vocês têm páginas que permitem que entendam os ucranianos", "lembrem-se de Pearl Harbor, naquela terrível manhã de 7 de dezembro de 1941, quando seu céu foi escurecido pelos aviões que os atacavam", disse, ao se referir ao ataque aéreo contra a base naval que motivou a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
"Lembrem-se de 11 de setembro, aquele terrível dia de 2001", acrescentou.
Mais de três semanas depois do início da invasão russa, que já custou a vida de centenas de civis e fez com que cerca de três milhões de pessoas deixassem suas casas, Zelensky se dirigiu ao Congresso de um local desconhecido em Kiev, para contar que seu país está lutando contra um "terror que a Europa não vivenciava há 80 anos".
'Eu tenho um sonho'
O presidente ucraniano também lembrou as mais de 100 crianças que morreram, "cujos corações não batem mais" por causa da guerra. O dirigente de 44 anos disse aos congressistas que não vê "o sentido da vida se não é possível deter a morte".
O comediante transformado em líder em tempos de guerra parafraseou o discurso "I have a dream" ("Eu tenho um sonho", em tradução livre), do ativista negro dos direitos civis Martin Luther King, para pedir aos legisladores a criação de uma zona de exclusão aérea.
"Eu tenho um sonho, essas palavras são conhecidas por todos vocês. Hoje, posso dizer, tenho uma necessidade, a necessidade de proteger nossos céus. Eu preciso da decisão de vocês, da ajuda de vocês."
"É pedir demais criar uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, para salvar as pessoas? É pedir demais uma zona de exclusão aérea humanitária?", acrescentou, antes de exibir um vídeo emotivo de seu país sendo bombardeado.
Ao término do vídeo, apareceu a seguinte legenda: "Fechem os céus sobre a Ucrânia".
O presidente democrata da Comissão de Inteligência do Senado, Mark Warner, disse que ficou "incrivelmente comovido" com o discurso de Zelensky, mas não apoiou o estabelecimento de uma eventual zona de exclusão aérea.
Sem que chegassem a apoiar o fechamento dos céus ucranianos, muitos congressistas respaldaram as súplicas de Zelensky para que Washington ajude a negociar o envio de armas de estilo soviético para a Ucrânia, incluídos os aviões de combate MiG da Polônia e os sistemas de mísseis terra-ar S-300.
Zelensky foi apluadido de pé por todos os legisladores, que estavam adornados com broches azuis e amarelos, as cores da bandeira ucraniana, e também ovacionaram a embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos, Oksana Markarova, sentada na segunda fileira.