Por Itasat
Em Doha, no Catar, onde acompanhou, nesta semana, o sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2022, o técnico da Seleção Brasileira, Tite, falou com exclusividade à Rádio Itatiaia. Quase seis anos depois de assumir o comando da equipe, Tite falou sobre o ciclo desde a última Copa do Mundo, da preparação dos jogadores mais jovens e também dos mais experientes, como Daniel Alves, e também revelou as situações do lateral-esquerdo do Atlético, Guilherme Arana, convocado para as últimas partidas, e do atacante Hulk, que voltou a vestir a camisa da Seleção em agosto do ano passado.
Confira os principais pontos da entrevista concedida ao apresentador João Vitor Xavier e o vídeo completo no fim desta matéria.
Ciclo à frente da Seleção
"Me sinto com um ciclo na plenitude. Não que não tivesse responsabilidade no outro, mas você pega um trabalho na sua metade, ele fica muito difícil para poder gerir. Agora, aquilo que minha filha falou quando eu estava muito na dúvida se eu seguia com a Seleção Brasileira ou não, de aceitar o convite ou não. Sei do orgulho, mas também sei da responsabilidade e da expoisção que isso requer. E ela disse assim: 'pai, tu é formador de equipe'. E eu digo: 'teu argumento tá legal'. Ao longo da vida, o sucesso que veio foi com formação de equipe. Então, eu venho com essa bagagem maior, inclusive com aquele outro período para essa segunda Copa do Mundo".
Tem esse aspecto da vinda, da permanência, da não-vinda. Por exemplo, o Richarlisson não veio nas duas últimas convocações. Uma por não estar na sua melhor condição físico-técnica e não estava com desempenho. E a outra por estar machucado. Mas ele sabia do respeito e do acompanhamento, assim como o Arthur, o Bruno Guimarães - que jogou o primeiro jogo contra o Chile lá e a gente não descarta. Eu não tenho o perfil, nós da comissão técnica não temos o perfil de jogar um jogo mal, cortar a cabeça e botar na bandeja. Isso não faz parte, futebol não é assim, não se constroi dessa forma. Eu tenho que saber absorver, sim, as críticas em cima da atuação de um atleta, da atuação da equipe, mas saber que a médio e longo prazo, esses atletas têm a condição de evoluir. É assim e é, também, dos técnicos das categorias de base. Essa integração conosco, eu falo bastante do Amadeu, do Dalla Déa (ex-técnico da Seleção Brasileira sub-17), do Jardine, do Micale, do Paulo, que são todos os técnicosque trabalharam com essa geração e a gente estava sempre muito integrado para saber das características e eles terem uma naturalidade maior no seu desempenho.
Ciclo olímpico
Vou pegar um exemplo para te dar: o Vini tem muitos poucos jogos com a equipe principal do Flamengo e ele tem uma admiração pelo Amadeu enorme. Porque essa formaçãod esse eatleta eu soube e acompnhava. O Amadeu fazsia orientações espcificamente para o Vini: 'olha, tu tem que fazer isso, tem que fazer aquilo', didaticamente, dando a ele toda uma questão de evolução e, principalmente, dando a ele a tranquilidade de que ele podia errar, mas que ele pudesse ter um processo evolutivo se ele pudesse ouvir o Amadeu. Essas relações de treinamento e humandas que eses profissionais trouxeram aos atletas, nós, de uma maneira natural, por convivermos e trocar essas informações, a gente trouxe para conosco. É um legado que a gente tem.
Pontas
Mais do que eu, a geração está construindo. O grande desafio de um técnico é pré-conceber na sua cabeça um sistema, com as funções e, se olhar todas as equipes com as quais eu trabalhei, elas tiveram, sim, jogadores no meio-campo, predominantemente, com dois atacantes. Isso é equilíbrio. Futebol é criação e fazer gol, sim, isso é o fascínio, é a prioridade. Mas, para se vencer um jogo é preciso ter consistência também.
Me faz lembrar de um dos primeiros livros que eu li, do Maradona, em que ele fala que o Bilardo chamou ele e o Valdano e disse que eles teriam liberdade. O livro é o 'La Mano de Dios', que tem ele na capa. Eu queria entender o que aconteceu, um pouquinho, com aquela seleção que foi campeã. Diz que o Bilardo chamou os dois e disse: 'Eu não quero que vocês marquem, vocês terão a liberdade criativa, mas eu preciso de ocupação de espaços. Eu preciso que vocês retornem para compactar junto a linha defensiva, para que estejam mais próximos e não dar tanto espaço aos adversários'. Isso dito pelo próprio Maradona e o Valdano. Aquilo ali foi uma situação importante, um componente para a equipe de uma maneira geral.
Daniel Alves
Meu pai falava assim: 'bota a molecada para jogar'. Eu respeitava, mas dava um tempinho e eu falava: 'pai, bota os bons para jogar, né?'. Sem o preconceito. Vou pegar dois exemplos: do Kleber e do Renato Augusto. A importancia que teve o Dani foi extraordinária para o ouro olímpico também. E vou fazer uma inconfidência: no ultimo jogo ele foi capitão e, normalmente, no término do jogo, no momento da oração, o capitão também fala. E um dos aspectos que ele colocou foi assim. A gente constroi a nossa trajetória no nosso melhor do dia a dia. Excelencia é um processo diário, se a gente quiser fazer bem lá na frente, tem que fazer bem agora. Ele disse assim, eu não sei se a gente vai ser campeão mundial, a gente vai buscar, mas eu quero ser campeão na vida. Esse cara tem mais títulos que o Messi. Ele não é só campeão, ele é campeão na vida.
Arana
Falando meio paternalista, fui eu quem lançou ele, né? Quando o filho é bonito, a gente fala: é meu. Mas se ele não decola, a gente fala: é, não tava pronto... O Arana jogou o primeiro jogo da Seleção contra a Venezuela. E quando ele estreou no Corinthians eu parabenizei os pais porque eles deram a ele um legado extraordinário, que é o da coragem. O primeiro passo para a gente ter sucesso, êxito em alguma coisa é encarar os desafios. É um cara que está sempre colocando objetivos e crescendo. Mas ele está, dentro de uma competição leal, para buscar estar na Copa do Mundo.
Hulk
Ele é um jogador específico de finalização, que fez uma grande campanha no ano passado. Que veio e estava à mercê de retomar dentro da Seleção Brasileira. E lembro até de uma situação que estávamos dentro do jogo contra a Argentina e estávamos fazendo uma preparação e daqui a pouco eu olho para o banco e ele faz o seguinte comentário: 'a gente ia para dentro deles hoje e eu ia entrar e ia meter gol'. Esse tipo de jogador experiente, mas com essa capacidade de doação, de ambição, de crescimento. Quem decide tem a prerrogativa de agradar a uns e desagradar a outros, mas respeitar a todas. Mas o Hulk é um daqueles atletas que, na plenitude da sua forma, tem sim o meu respeito.