No dia em que o Reino Unido sai finalmente da União Europeia (UE), mais de três anos depois de um referendo que ditou o destino dos britânicos, os líderes das três grandes instituições europeias reuniram-se hoje (31), em Londres, para falar sobre o futuro da Europa.
Os presidentes da Comissão, Parlamento e Conselho europeus partilharam a visão comum de que este é um dia peculiar e aproveitaram para lançar avisos ao Reino Unido quanto às negociações para um possível acordo comercial.
David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu, abriu o discurso desta sexta-feira. “É um dia peculiar para a Europa, em que começa uma nova fase. À meia-noite, o Reino Unido sairá da UE e, após três anos de discussões, faremos um balanço com os nossos amigos britânicos. A União Europeia acabou por se beneficiar desta situação, uma vez que se tornou ainda mais unida”, declarou.
Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, tem a mesma opinião. “Este é um dia excepcional para a União Europeia, e hoje provavelmente temos sentimentos mistos”, afirmou.
“Nunca é um momento feliz quando alguém parte, mas estamos abrindo um novo capítulo e vamos dar toda a nossa energia para a construção de uma União Europeia mais forte e mais ambiciosa”, definiu.
“Ainda ontem tivemos a oportunidade de realizar um debate estratégico entre instituições de forma a perceber como podemos ter uma melhor cooperação e como é possível enfrentar os desafios da agenda”.
“Ao nível europeu eu considero que temos muitos pontos fortes, valores e liberdade fortes. Temos 27 democracias fortes, temos 22 milhões de empresas num mercado único poderoso”, defendeu Michel.
“O Reino Unido terá de aceitar um mercado interno” disse. Quanto aos próximos onze meses de negociações com o Reino Unido, enquanto este atravessa o período de transição, o presidente do Conselho Europeu garantiu que a UE continuará “a ser leal para com o Reino Unido, como tem sido ao longo dos últimos três anos”.
Deixou, porém, um alerta. “O Reino Unido decidiu divergir do padrão europeu e terá de aceitar um mercado interno. Quanto mais o Reino Unido se afastar dos padrões europeus, menos acesso terá ao mercado único”, lembrou.
Michel Barnier, até agora negociador-chefe da UE para o Brexit, já tinha alertado que a União Europeia apenas concordará com um acordo de livre comércio caso o Reino Unido aceite manter as normais europeias para o ambiente e para os direitos dos trabalhadores.
“O acesso aos nossos mercados será proporcional aos compromissos relativos às regras comuns”, frisou em outubro, em entrevista a publicações europeias.
“É muito importante que nos próximos meses nos mobilizemos com Michel Barnier, que tem toda a confiança dos estados-membros para continuar o trabalho que tem sido o seu durante os últimos anos”, concluiu Charles Michel.
“A força não está no isolamento, mas na união” disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia. Ela considera a concretização do Brexit um ponto para a UE. “Quando o sol nascer amanhã, abre-se um novo capítulo para a nossa união”, declarou. “Durante estes mais de 47 anos, a nossa união ganhou um ímpeto político, tornou-se um poder econômico muito forte”.
“A nossa experiência ensinou-nos que a força não está no isolamento, mas na nossa união, que representa algo único. Em nenhum outro lugar do mundo podemos encontrar 27 nações com mais de 400 milhões de pessoas que falam 24 línguas, que se apoiam umas nas outras, que trabalham e vivem em conjunto. Isto não acontece por acaso. Isto está baseado em séculos de história partilhada”, garantiu.
“As oportunidades que a Europa poderá agarrar não mudaram devido ao Brexit”, salientou von der Leyen. Oportunidades essas que são “a mudança climática, o Acordo Verde Europeu, o estar na frente da revolução digital, gerir a migração de uma forma eficiente e humana e construir parceiras fortes em todo o mundo”, discursou.
“Enquanto tudo isto acontece, queremos ter a melhor relação possível com o Reino Unido, mas sabemos que essa relação nunca será tão boa como se o Reino Unido continuasse a ser membro da União Europeia”, uma vez que “a união faz a força”, defendeu.
“Queremos manter uma ligação estreita com os parceiros britânicos, mas a Europa vai defender os seus interesses de forma determinada”, frisou, aproveitando para lançar um aviso quanto às negociações sobre um eventual acordo comercial.
“O Reino Unido vai tornar-se um país terceiro e, como a todos os países terceiros, apenas aqueles que reconhecem as regras do mercado interno podem se beneficiar do mercado comum. Queremos ser bons vizinhos e amigos e, como bons amigos, podemos negociar de forma justa, porque partilhamos uma base comum. Entramos nestas negociações com um espírito de tentar alcançar justiça e segurança para a nossa economia”, finalizou.