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Arturos

Conheça a festa de 'expulsão de João-do-Mato', rito tradicional da Comunidade dos Arturos

Ao som cânticos de sofrimento e libertação, evento celebra solidariedade entre os negros outrora escravizados em Minas Gerais

15/12/2019 10h03
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Os Arturos, comunidade quilombola situada no bairro Jardim Vera Cruz, em Contagem, realizam no dia de hoje uma de suas mais tradicionais celebrações, que remetem aos tempos da escravidão. Segundo a lenda, se até a passagem do dia 23 para 24 de dezembro o escravo não capinasse sua roça, o “João do Mato” ali amarrava seu cavalo e era o sinal de que aquele era um “escravo preguiçoso” e nada ali prosperaria, explica o atual patriarca da comunidade “seu” Mário Braz da Luz, de 86 anos. O simbolismo da solidariedade entre os escravos se revela no mutirão reunindo homens e mulheres que seguem em direção aos roçados, com suas foices e enxadas, entoando cânticos de sofrimento e libertação, para que nenhum roça fique submetido ao “João do Mato”.

O rito agrário que consiste na expulsão do João-do-mato, que é símbolo com características humanas da vegetação que nasce sem ser semeada (erva daninha) e deve ser destruída. Nesse rito os capinadores vão realizando seu trabalho em mutirão, entoando as cantigas alegres ou os lamentos da vida diária - numa lembrança dos tempos de cativeiro. O João-do-mato aparece quando a capina vai chegando ao final. Com as enxadas levantadas, os capinadores entoam a cantiga de expulsão: o João-do-mato passa entre as enxadas e sai das terras capinadas em busca de área em que o serviço do homem não interferiu na natureza. O rito configura o valor da enxada no trabalho e sobre o mal sobre a preguiça, mantendo o ciclo da vida como um rito de constante renovação.

O ritual foi conduzido pelo patriarca da comunidade “seu” Mário, que neste ano assumiu a tradição em uma cadeira de rodas e está se recuperando de grave problema de saúde que o levou por algumas semanas ao CTI do hospital municipal de Contagem.

A comunidade negra Arturos descende de Camilo Silvério da Silva que, em meados do século XIX, chegou ao Brasil num navio negreiro vindo de Angola. Do Rio de Janeiro, Camilo foi enviado a Minas Gerais para trabalhar num povoado situado na Mata do Macuco, antigo município de Santa Quitéria, hoje Esmeraldas. Neste povoado, trabalhou nas minas e como tropeiro nas lavouras. Casou-se com uma escrava alforriada chama Felismina Rita Cândida. Dessa união nasceram seis filhos.
Entre os irmãos, Artur Camilo Silvério foi o que mais prosperou. Nasceu em 1885, época da Lei do Ventre Livre e casou-se com Carmelinda Maria da Silva. Os dois tiveram 10 filhos e vieram morar em Contagem, na localidade conhecida então conhecida como Domingos Pereira, onde adquiriram a propriedade na qual ainda vivem seus descendentes.
Hoje, em sua quinta geração, fazem parte da comunidade 80 famílias, cerca de 500 pessoas. A comunidade oferece um retrato da identidade cultural e das tradições dos negros africanos trazidos para o Brasil no período escravagista, bem como da miscigenação com a cultura portuguesa, que deu origem a um sincretismo que ora se comemora isoladamente, ora em companhia das comunidades que vivem a seu redor.
Entre as celebrações dos Arturos, destacam-se o Batuque, a festa da capina denominada "João do Mato", a folia de Reis, a Festa da Abolição da Escravatura e, principalmente, o Reinaldo de Nossa Senhora do Rosário, festa popularmente conhecida como Congado. Eles também formam o grupo artístico Arturos Filhos de Zambi (deus dos negros da nação banto) que trabalha percussão, dança afro e teatro em torno da história dos negros.