O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) confirmou na noite dessa quinta-feira (2), a existência de ruído na relação dele com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em entrevista à Rádio Jovem Pan, Bolsonaro disse que Mandetta extrapolou.
"O Mandetta já sabe que a gente está se bicando há algum tempo, já sabe disso, eu não pretendo demiti-lo no meio da guerra, não pretendo. Agora, ele é uma pessoa que [...] em algum momento, ele extrapolou. Ele sabe que tem uma hierarquia entre nós, eu sempre respeitei todos os ministros", afirmou o presidente.
O ministro segue as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e defende o isolamento para combater o avanço da covid-19. Já Bolsonaro prega o fim do "confinamento em massa" e a reabertura do comércio, medida descartada na maioria dos países.
Bolsonaro disse que não pretende demitir Mandetta, mas ressaltou: "Ninguém, nenhum ministro meu é indemissível, nenhum, nenhum. Todo mundo pode ser demitido, uns cinco já foram embora, infelizmente, por motivos que não cabem discutir aqui. Agora, eu acho que o Mandetta, em alguns momentos, ele teria que ouvir um pouco mais o presidente da República", afirmou.
Vírus
O presidente reforçou que as questões do "vírus e desemprego não podem ser tratadas de forma dissociada" no Brasil e defendeu o afrouxamento das regras de quarentena. Segundo o presidente, se a partir da próxima semana "não começar a voltar o emprego, vou ter de tomar uma decisão".
Entre as alternativas, Bolsonaro, sugeriu "numa canetada" autorizar o retorno às atividades dos comerciantes, que, segundo o presidente, "levaram uma paulada no meio da testa com as medidas tomadas por alguns governadores". "Eu tenho um projeto de decreto pronto para ser assinado, se for preciso, que considera como atividade essencial toda aquela indispensável para levar o pão para casa todo dia", afirmou o presidente.
Segundo o presidente, "enquanto o Supremo ou o Legislativo não suspender os efeitos do meu decreto, o comércio vai ser aberto. É assim que funciona". Bolsonaro ainda disse que não montou um ministério "colado" ao Legislativo e descartou que os militares possam atuar na reabertura do comércio.
O presidente voltou a pedir que os governadores e prefeitos revejam as posições sobre o isolamento. "Mais prudente seria abrir de forma paulatina o comércio a partir da próxima semana", disse o presidente.
Bolsonaro defendeu que as políticas de isolamento podem levar ao aumento do número de mortes por causa das políticas de quarentena. "Quando você isola e leva ao desemprego, junto do desemprego vem a subnutrição, o organismo fica mais debilitado. Essa pessoa vai ficar mais propensa a contrair um vírus - esse próprio aí, o coronavírus -, que terá uma letalidade até maior", defendeu o presidente. "Entre morrer de vírus e uma parcela maior que poderá morrer de fome, depressão e suicídio, há uma diferença muito grande", disse.
Avanço
E meio ao impasse, a doença avança e faz mais vítimas no Brasil. As secretarias estaduais de Saúde divulgaram, até as 6h desta sexta-feira, 8.066 casos confirmados do novo coronavírus no país, com 327 mortes pela covid-19.