Por Itasat
A corrida do governo americano para obter equipamentos médicos para o combate à pandemia do novo coronavírus colocou os Estados Unidos em rota de colisão com países aliados. Canadá e Alemanha reclamaram de ações dos americanos para barrar a exportação de máscaras e tomar respiradores inicialmente solicitados por outros países.
A falta de máscaras e equipamentos de proteção tem sido um problema crítico em todos os países que se tornaram epicentro da pandemia, como é o caso dos EUA. Luvas e máscaras adequadas são usadas em larga escala, pois devem ser descartadas com frequência. Sem elas, os profissionais que trabalham na linha de frente do tratamento acabam contaminados. Já os respiradores são essenciais para pacientes graves.
Nessa sexta-feira (3), Canadá e Alemanha se somaram a outros países que já vinham alertando para a política desesperada do governo de Donald Trump para suprir a demanda interna. O presidente invocou a Lei de Proteção de Defesa para fazer com que a 3M, uma das maiores fabricantes de máscaras do mundo, aumente a produção e suspenda as exportações, que têm como destino o Canadá e a América Latina.
A própria companhia divulgou um comunicado no qual alerta para as consequências. "Há significativas implicações humanitárias em cessar o fornecimento para profissionais de saúde do Canadá e da América Latina, onde somos um fornecedor crítico. Além disso, interromper a exportação, provavelmente, levaria outros países a retaliar. Se isso acontecer, o número de equipamentos disponíveis para os EUA diminuiria. É o contrário do que buscamos", alertou a empresa.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, qualificou como um "erro" a decisão dos EUA de limitar as exportações de equipamentos médicos. "É um erro criar bloqueios ou reduzir a quantidade de comércio de bens e serviços essenciais, incluindo os médicos, de ambos os lados da nossa fronteira", disse Trudeau. "A 3M indicou que é importante continuar as exportações para países como o Canadá."
Também nessa sexta, autoridades alemãs acusaram os EUA de praticar "pirataria moderna" e adotar práticas do "Velho Oeste" depois que uma carga de máscaras N95 foi retida na Tailândia. A Alemanha afirma que 200 mil máscaras da 3M seriam destinadas a policiais do país. "Esta não é a forma de tratar os parceiros transatlânticos. Mesmo em tempos de crise global, não se deve adotar métodos do Velho Oeste", afirmou o ministro alemão do Interior, Andreas Geisel.
Sem citar diretamente os EUA, o ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, também criticou ontem a decisão americana de concentrar as compras de insumos emergenciais. "Estamos vendo retenção de produções globais de máscaras. O que antes era global, agora é só pra atender 'o meu país'", disse o brasileiro.
Queixas
As reclamações ampliam a lista dos países insatisfeitos com os americanos. A francesa Valérie Pécresse, presidente da região de Île-de-France, disse ontem que máscaras que foram enviadas por empresas da China aos EUA tinham inicialmente sido vendidas à França.
"Perdemos um pedido para os americanos, que nos superaram em uma remessa que tínhamos feito", disse Pécresse. "Eles ofereceram três vezes o preço e pagaram adiantado. Eu não consigo fazer isso."
Trump tem sido pressionado para socorrer Estados e municípios com respiradores e equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde, conforme o número de infectados cresce nos EUA.
No dia 15, quando deve ocorrer o pico das internações hospitalares, segundo o modelo estatístico usado pela Casa Branca, os EUA devem precisar de 31,7 mil respiradores mecânicos. Atualmente, há apenas 12,7 mil no estoque de emergência do governo federal.
Reportagem do New York Times mostrou, no entanto, que nem todos estão em condições de uso por problemas na manutenção. Trump tem dito que os estoques serão destinados aos Estados conforme necessidade. O governo de Nova York, onde está concentrada a metade dos casos do país, disse que o Estado precisará de milhões de máscaras até domingo.