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Coronavírus

O bom exemplo da Alemanha de Merkel no combate à pandemia de COVID-19

No Brasil, os principais líderes não se entendem antes do pico de contaminação do novo coronavírus

20/04/2020 13h25Atualizado há 5 anos
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Por EM

A chanceler alemã, Angela Merkel, em entrevista coletiva na última quarta-feira, deu mais uma demonstração do motivo de ser considerada uma das principais lideranças da atualidade. Muito longe de bradar vitória pela contenção do crescimento do número de infectados, Merkel explicou de forma clara e didática como qualquer aumento no número de casos pode levar ao caos do sistema de saúde alemão.

A entrevista ocorreu no mesmo dia em que a Alemanha começa um processo de relaxamento da quarentena. Fez isso, segundo a própria chanceler, "pisando em gelo fino". O cuidado que a situação requer – e que Merkel explicitou - passa longe do cenário caótico que verificamos no Brasil.

A realidade brasileira é de falta de harmonia entre os principais líderes da nação. E nem cabe aqui apontar culpados, mas sim reconhecer o fato de que as divergências entre governadores, Câmara dos Deputados, Senado  e até o Supremo Tribunal Federal pouco colaboram para o enfrentamento do que provavelmente é a maior crise que a humanidade enfrentou nos últimos 75 anos (considerando que a Segunda Guerra Mundial acabou em 1945).

Pois bem, começando pela demissão do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Concordando ou não com as ideias do presidente, é razoável que se o subordinado não se alinha com as ideias do chefe – e não muda de opinião – o melhor é que saia mesmo. Ocorre que é bem difícil achar um substituto que tenha apoio popular –76% da população rejeitaram a saída de Mandetta, segundo pesquisa do instituto Atlas –, bom trânsito com deputados e senadores (Mandetta é político profissional) e abertura para diálogo com governadores (inclusive com desafetos como João Doria e Wilson Witzel).Essas três características parecem mais importantes agora do que nunca.

O apoio popular será fundamental quando a pandemia chegar ao pico no Brasil. Medidas mais duras serão necessárias em meio ao aumento do número de mortes e de desempregados. Nesse ponto, o apoio cativo do presidente – os 30% mais fiéis – não será suficiente.

O bom trânsito com o Poder Legislativo foi fundamental para a rápida aprovação de medidas de remanejamento de recursos para o Ministério da Saúde. Existe risco de retaliações de deputados e senadores, como, por exemplo, se abster de votar medidas provisórias (MP) do governo. Isso provavelmente ocorrerá hoje com a MP do Programa Verde Amarelo, retirada de pauta pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, em uma clara resposta ao Planalto.

A articulação com os governadores e com prefeitos é mais relevante do que nunca, considerando a derrota que a União sofreu no Supremo Tribunal Federal (STF). O STF decidiu por unanimidade que estados e municípios têm autonomia para determinar o isolamento social no período de pandemia da COVID-19. Assim, para que haja o mínimo de coordenação nas ações entre União e estados, será necessário composição sem imposição.

De fato, o novo ministro, Nelson Teich, não tem nada disso, muito menos experiência com poder público que lhe dê condições para mover um mastodonte administrativo que é o Ministério da Saúde. De toda forma, Teich é qualificado e é um nome que tende a sofrer menos resistência do que alguém parecido com o deputado e ex-candidato ao cargo, Osmar Terra.

Infelizmente, por enquanto, não temos nada próximo de Merkel no Brasil. Todos parecem querer marcar posição, pisando forte, sem considerar que estamos sobre gelo fino.