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Será o fim Lava Jato

'Superministro' Moro pede demissão após Bolsonaro exonerar diretor da Polícia Federal

Crise em meio à pandemia

24/04/2020 11h44
Por:

Por Itasat

O ex-juiz federal Sergio Moro não é mais ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Ele deixou o cargo nesta sexta-feira, após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demitir o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, homem de confiança de Moro. É o segundo ministro popular a deixar o governo neste mês, em meio à pandemia do novo coronavírus que já matou mais de 3,3 mil brasileiros. No dia 16 deste, Mandetta foi exonerado do Ministério da Saúde após discordância com o posicionamento do presidente sobre a pandemia.

A possível saída de Moro começou a ser noticiada nessa quinta-feira (23), quando ele foi avisado por Bolsonaro sobre a troca no comando da Polícia Federal. O ministro avisou ao presidente que não ficaria no governo com a saída do diretor-geral, mas a exoneração foi publicada no Diário Oficial desta sexta-feira.

Sergio Moro aceitou deixar a carreira de juiz federal para ser superministro do governo Bolsonaro, o que, na realidade, nunca ocorreu. A promessa do presidente de total autonomia não foi cumprida, e o ministro passou a colecionar derrotas. Mesmo assim, Moro se tornou o ministro mais popular do governo Bolsonaro, o que desagradou e gerou ciúmes no presidente. 

Pesquisa realizada no início de dezembro de 2019 mostrou que 53% da população avalia como ótima/boa a gestão do ex-juiz no Ministério da Justiça. Outros 23% a consideram regular, e 21% ruim/péssima. Bolsonaro tinha números mais modestos, com 30% de ótimo/bom, 32% de regular e 36% de ruim/péssimo.

PF

Um dos mais cotados a assumir o comando da Polícia Federal é o atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Tradicionalmente, a escolha é feita pelo ministro da Justiça, mas Bolsonaro deve escolher. 

Interlocutores de Valeixo dizem que a tentativa de substituí-lo ocorre desde o início do ano. Essa troca não tem a ver com a briga pelo comando da PF ocorrida ano passado entre o presidente e Moro. Em agosto, Bolsonaro tentou antecipar a saída do superintendente da corporação no Rio de Janeiro, mas acabou recuando diante da repercussão negativa.

Valeixo se reuniu nessa quinta-feira (23), com os 27 superintendentes regionais nos estados e delegados federais que ocupam diretorias estratégicas por videoconferência. O diretor-geral descartou com veemência que sua saída seja movida por pressões políticas e afastou rumores de que sua disposição em dar adeus à cadeira estaria relacionada a uma reação de aliados de Bolsonaro por causa de investigações que incomodam o Planalto.

Repercussão

Ex-integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, Carlos Fernando dos Santos Lima atacou o presidente Bolsonaro após a divulgação da notícia de que o ministro poderia deixar o governo. Santos Lima, que trabalhou com Moro também no Caso Banestado, afirmou que Bolsonaro nunca foi "real apoiador do combate à corrupção". "Moro deve sair. Bolsonaro não é correto, não tem palavra, deixou o ministro sem qualquer apoio no Congresso tanto nas medidas contra a corrupção quanto durante o episódio criminoso da Intercept", escreveu o procurador aposentado.

Associações que representam policiais federais também reagiram à troca. "Toda hora, se há uma especulação sobre troca na Polícia Federal, há esse problema todo", afirmou Evandir Felix Paiva, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal. "Infelizmente, nós vamos viver assim enquanto não aprovar o mandato (para o chefe da PF)", concluiu.

Segundo Paiva, esse tipo de problema seria menor se o Congresso tivesse aprovado projetos sobre autonomia da PF. Em nota, a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol) lembra que Valeixo é o terceiro diretor-geral da PF nos últimos três anos. "A cada troca ou menção à substituição, uma crise institucional se instala", diz o texto, citando reflexos no combate à corrupção.

O presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, disse que o presidente não pode ter "carta branca para destituir, sem critérios claros, os ocupantes das funções".