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Coperlidere
Tragédia de Mariana

Moradores de comunidades atingidas em Mariana não se veem felizes nos reassentamentos

Cinco anos do desastre

06/11/2020 10h10
Por:

Por Itasat

“É até difícil de responder. Não tem como. Aquela vida de antes ficou”. A pergunta feita a Expedito Lucas da Silva, ex-morador de Bento Rodrigues, comunidade atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas, era se ele se enxergava feliz quando saísse o reassentamento. E é preciso repensar até sua expressão. 

Como retornar pra algo que nunca se viveu? Como retomar a alegria de antes em um lugar que nunca antes existiu. Será tudo novo. O lugar e as pessoas, que mudaram muito em cinco anos, desde 5 de novembro de 2015 quando a estrutura se rompeu.

“Eu tenho vontade, mas não acho que vou ser feliz. A sociedade hoje não vê a gente com aqueles olhos de antes. Era uma coisa mais simples e hoje acha que a gente conseguindo esses direitos está numa boa. Mas não estamos”, diz em conversa com a reportagem. Emocionado, a entrevista foi interrompida por alguns segundos para que ele pudesse se recompor. 

“A gente não precisa de muita coisa para sobreviver, mas você precisa ser feliz. Ter sua liberdade. Não é o dinheiro e uma casa bonita que vão trazer a sua felicidade. O que vai trazer é o espaço, a vida a convivência, uns aos outros sendo amigos. É o que eu penso. Não é o bem material, mas hoje o que está a frente não é como as pessoas vivem, mas, sim, o lado material. E isso para a gente não é de grande importância”, diz.

“Talvez os jovens podem ter uma vida um pouco melhor do que a que a gente vai ter lá. Mas na minha faixa etária, mais idoso, não vão conseguir se enxergar lá, dentro de uma nova realidade”, completa.

Luzia Queiroz, é membro da Comissão de Atingidos pela Barragem do Fundão, e representante da comunidade de Paracatu de Baixo. Ela define que vai ser difícil se reconhecer no novo lugar. “O pessoal vai ter que reaprender a comportar em comunidade porque aquela vida mudou em 2015. Mudou o linguajar, os costumes, os hábitos. A gente não vai se reconhecer. Estamos indo, mas não felizes nem em paz. Estamos indo porque é a única chance de segurar algo justo”. 

O Ministério Público e a Prefeitura de Mariana garantem têm feito tudo o que podem para que o doloroso processo de reparação não seja ainda pior. O prefeito Duarte Junior amplia o sentimento de frustração a toda cidade. 

Para Mauro da Silva, vice-presidente da associação de moradores de Bento Rodrigues e membro da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão, “a vida jamais vai voltar a ser como antes. Hoje as pessoas vivem um falso presente na esperança de um futuro cada vez mais incerto”.