Por Itasat
Os clássicos que decidirão o Campeonato Mineiro deste ano, entre Atlético e América, trazem uma certeza: Belo Horizonte chegará ao 100º título do Campeonato Mineiro. O número chama atenção apenas por ser redondo, afinal, a disparidade entre clubes da capital e do interior é fato conhecido para qualquer humano que teve como auge da intimidade com o futebol interromper uma pelada de rua ao passar por ela.
O placar de 100 a 9 pró-BH apenas ilustra apenas o óbvio, mas é, também, oportunidade para refletir se a situação poderia ser outra, se esse abismo poderia ser reduzido. Ou se é apenas uma consequência natural do tempo e da diferença econômica entre clubes interioranos e belo-horizontinos. Algo que pode ser respondido pelo técnico que conquistou o título estadual mais recente pelo interior de Minas, Ney Franco.
Ao comandar o Ipatinga, foi campeão mineiro em 2005 e vice em 2006, num período do Tigre marcado pela parceria com o Cruzeiro, sendo até apelidado de “filial” do clube celeste, que empestou diversos jogadores à equipe do Vale do Aço. E esse é um dos caminhos indicados por Ney para que um clube do interior consiga amenizar o desequilíbrio em relação aos de BH.
“Acho que o Ipatinga de 2005 e 2006 é o retrato que outra equipe pode copiar. Primeiramente, fez uma parceria com um clube que tinha jogadores em condições de disputar jogos por outra equipe. A Usiminas (empresa de siderurgia) ajudou, a prefeitura ajudou, teve investidores que ajudaram também na montagem desse elenco”, explica.
“Criou-se um ambiente interessante para que você tivesse jogadores treinando com entusiasmo, salário em dia, premiação em dia. Acho que o básico disso tudo é ter uma comissão técnica para gerir isso, uma diretoria que dê condição de trabalho e a capacidade de montar uma equipe com jogadores com muita qualidade”, prossegue o treinador.
Ney acredita que um dos pontos a serem resolvidos pelos clubes de fora da capital é conseguir segurar atletas que se destacam. “Acho que o grande problema do interior é que sempre se monta equipes em cima da hora para disputar um campeonato regional. E a maioria dos clubes tem como interesse maior algum jogador se destacar e esse jogador ser negociado, para o clube ter seus ganhos financeiros para praticamente montar uma equipe para o ano seguinte”, diz.
“Acho que a grande dificuldade dos clubes do interior é ter a cultura de relevar jogadores e tentar manter esses jogadores o máximo possível para enfrentar as grandes equipes da capital”, completou.
Chegou perto
O Tombense é o clube do interior de Minas que, nos últimos dois anos, mais se aproximou de América, Atlético e Cruzeiro no estadual. Em 2020, foi vice-campeão mineiro e, na atual temporada, chegou às semifinais. O presidente do clube, Lane Gaviolle, afirma que são 22 anos de trabalho para chegar a esse patamar e aponta dois aspectos também citados por Ney: salário em dia e revelação de jogadores — para ele, porém, com o objetivo de conseguir dinheiro.
“Acredito que, para o Tombense chegar forte nas competições, é honestidade, seriedade, pagamento em dia e, principalmente, revelar novos talentos.”
O dirigente indica alguns fatores que dificultam os clubes do interior a chegarem ao nível dos de BH. “Um deles é logística. O investimento é muito abaixo em relação ao da capital. Por isso a gente tem que se reinventar e buscar alternativas interessantes de novos atletas, para que possamos revelar esses atletas para grandes clubes. O Tombense também investe muito na infraestrutura.”
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Enquanto América, Atlético e Cruzeiro passam a temporada com orçamentos milionários, a situação do interior é diferente. Difícil até projetar quanto um clube terá para gastar ao longo do ano, já que nem sempre se sabe quais competições disputará, se terá ou não o apoio de empresas, dentre outros fatores.
“As equipes da capital são tradicionalíssimas, todas elas com torcidas enormes, principalmente Atlético e Cruzeiro, com uma solicitação da mídia também, não só estadual, mas nacional. Isso tudo ajuda no desempenho de uma equipe”, analisa Ney Franco.
Os campeões
Confira a lista de vencedores do Campeonato Mineiro:
Atlético (45 títulos): 1915, 1926, 1927, 1931, 1932*, 1936, 1938, 1939, 1941, 1942, 1946, 1947, 1949, 1950, 1952, 1953, 1954, 1955, 1956**, 1958, 1962, 1963, 1970, 1976, 1978, 1979, 1980, 1981 1982, 1983, 1985, 1986, 1988, 1989, 1991, 1995, 1999, 2000, 2007, 2010, 2012, 2013, 2015, 2017 e 2020
Cruzeiro (38 títulos): 1928, 1929, 1930, 1940, 1943, 1944, 1945, 1956**, 1959, 1960, 1961, 1965, 1966, 1967, 1968, 1969, 1972, 1973, 1974, 1975, 1977, 1984, 1987, 1990, 1992, 1994, 1996, 1997, 1998, 2003, 2004, 2006, 2008, 2009, 2011, 2014, 2018, 2019
América (16 títulos): 1915, 1917, 1918, 1919, 1920, 1921, 1922, 1923, 1924, 1925, 1948, 1957, 1971, 1993, 2001 e 2016
Villa Nova (5 títulos): 1932*, 1933, 1934, 1935 e 1951
Siderúrgica (2 títulos): 1937 e 1964
Ipatinga (1 título): 2005
Caldense (1 título): 2002
*Atlético e Villa Nova dividiram o título de 1932
** Atlético e Cruzeiro dividiram o título de 1956