Por Itasat
A chegada de venezuelanos indígenas em Belo Horizonte aumentou muito neste ano. Ao todo, são cerca de 200 indígenas (150 pessoas da etnia Warao) abrigados em locais distintos e acolhidos por políticas públicas da prefeitura. De acordo com o município, o número é fluido, mas tem aumentado, o que amplia os desafios nesse tipo de acolhimento.
Sem recursos estaduais, e com pouquíssimos recursos federais, a prefeitura banca quase todos os custos. O subsecretário de Direitos Humanos de Cidadania da Prefeitura de BH, Thiago Alves, detalha o movimento de migração desse grupo específico e de que forma são atendidos no município.
"Somente esse ano mais de 150 indígenas chegaram ao município de Belo Horizonte e o processo é atribuído a uma série de desencontros ou de maus-tratos que eles sofrem em outros municípios. Isso motiva que eles continuem o processo de migração em busca de melhores condições", diz o subsecretário.
Thiago explica que o munícipio recebeu verba de R$ 240 mil do governo federal, mas que somente para manter o abrigo em parceria com os jesuítas o gasto chega a R$ 1,7 milhão. "Já em relação ao Estado não temos recebido nenhum tipo de apoio de cofinanciamento", destaca.
"Estamos tratando de uma demanda urgente, necessária e que carece de resolução imediata. São cerca de 200 indígenas que hoje estão no município de Belo Horizonte. São grupos heterogêneos que apresentam demandas distintas. Por conta disso, são realizadas ofertas de acordo com a construção realizada com o grupo podendo passar pelo acolhimento em moradia através do bolsa moradia, acolhimento em unidade da assistência social, abrigo de família ou mesmo a parceria com o serviço jesuíta", diz.
Além de indígenas recebendo bolsa moradia e cesta-básica, há outros morando em um abrigo jesuíta e outros vivendo em um anexo do abrigo São Paulo, da prefeitura. Esses últimos vão ser transferidos para um outro espaço, no Barreiro, que passa por reforma e deve ficar pronto na semana que vem.
Nas ruas
Quem circula pelas principais vias de Belo Horizonte já percebe alguns venezuelanos pedindo ajuda para voltar ao país de origem. Não é possível dizer se são os indígenas ou refugiados.
De julho de 2018 até outubro deste ano, Minas Gerais já acolheu 3.916 Venezuelanos refugiados. Mais de mil foram abrigados em Belo Horizonte.
Os dados fazem parte das agências das ONU para Refugiados, que junto de outras agências das Nações Unidas e entidades da sociedade civil, promovem a estratégia de interiorização, realocando os Venezuelanos em Roraima, para outros estados brasileiros.
Ana Karina de 33 anos, os quatro filhos e o companheiro fazem parte desses dados. Após deixarem a Venezuela, ficaram cerca de um ano e meio em abrigos em Boa Vista e em março deste ano desembarcaram na capital mineira.
Apesar de toda dificuldade, mas com muito apoio vindo do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados, aos poucos estão conseguindo andar com as próprias pernas. O companheiro e o filho mais velho, de Ana Karina, estão trabalhando em uma construtora e os mais novos estão matriculados na escola.
Em entrevista, a Venezuelana, emocionada, conta que sente muita falta dos pais e irmãos, mas que a decisão de se refugiar no Brasil, era para dar uma vida melhor aos filhos.
"Como meu esposo tinha um mês e meio trabalhando, saímos do abrigo. Consegui esse apartamento apartamento mais cômodo, amplo e me sinto bem. Graças a Deus, gosto muito de Belo Horizonte. Têm pessoas muito boas que ajudam os imigrantes", disse Ana.
Estão cadastrados na estratégia de interiorização mais de 62 mil venezuelanos. A ação, que é a principal do governo brasileiro, teve início em abril de 2018, e busca promover a inclusão socioeconômica aos venezuelanos que se refugiaram no Brasil.