Por Itasat
Trabalho voluntário, romance e férias. Objetivos diferente, mas que uniram Priscila, Daniella e Tayná, três brasileiras que estavam na África do Sul quando o governo federal decretou o fechamento das fronteiras para voos vindos da África, por conta do surgimento da nova variante do coronavírus, a Ômicron.
Priscila Ferraz, de 31 anos, é enfermeira de atenção básica e mora em Botucatu, interior de São Paulo. Ela viajou para o país africano para fazer trabalho voluntário com crianças de Langa, uma comunidade carente. A primeira vez que ela viajou foi em março de 2020, ano em que a pandemia se alastrou por todo o mundo. Ela teve que cancelar a missão e voltar ao Brasil. Após uma semana, conseguiu comprar passagens e regressar.
Quando a pandemia parecia mais controlada, Priscila viajou novamente ao país para concluir o trabalho e treinar inglês. No último sábado (27), ela tentou voltar ao Brasil e descobriu que seu voo havia sido cancelado. “Eu não me conformo, meu voo foi o primeiro a ser cancelado. No aplicativo estava tudo normal, eu cheguei ao aeroporto e vi naquela TV que eles têm que estava cancelado [o voo] devido à restrições da covid, aí eu entrei em desespero. Eles não avisaram nada. Comecei a ligar para a minha mãe, para o pessoal que eu conhecia, porque eu estava sozinha. Eu pedi informações para a companhia aérea e eles viraram as costas pra mim, não deram nenhum apoio. Trataram a gente de forma desumana. Tinha dois gringos lá que ficaram com dó de mim, me acalmaram e me levaram para comprar um voo de Nairóbi (capital do Quênia), que tinha um voo saindo de lá para o Brasil. Mas aí uma pessoa antes de mim comprou a última passagem e lotou”, relata.
Além de toda insegurança gerada pelo momento, Priscilla diz que a pior parte de não poder voltar ao Brasil é a falta de informações e de assistência. “Estava tudo normal até quarta-feira, a África publicou a notícia sobre a nova variante e aí as companhias aéreas surtaram, cancelaram tudo. Até sexta-feira teve voos, parou foi depois. A gente ficou a deus-dará, sem nenhum apoio. A gente não tem previsão de volta. As companhias aéreas surtaram e deixaram um monte de brasileiro solto na África do Sul, sem informação, sem apoio. Fecharam a África e abandonaram os brasileiros aqui.”
Além do prejuízo com as passagens, que Priscilla ainda não sabe se terá reembolso, ela diz que terá que fazer novo teste de covid, que custa 1.400 Rand, cerca de R$ 600.
Já Daniella Santos, de 27 anos, chegou ao país em setembro. Ela começou a namorar a distância em abril deste ano e marcou de se encontrar com o namorado na Cidade do Cabo, onde o americano já havia morado anteriormente. Ela entrou no país com visto de turista, que expira em três meses, no dia 15 de dezembro. Apesar de acreditar que o prazo deve ser prorrogado por conta das restrições, ela teme não conseguir voltar para casa para passar o Natal com a família, em Florianópolis, no Sul do Brasil.
“Até tem voos disponíveis por outras companhias aéreas, mas não sei se serão cancelados depois. Não pretendo comprar porque está um absurdo de caro. Se tudo der errado eu vou tentar no dia 14 [de dezembro], porque quero passar o Natal com minha família, mas a passagem está R$ 6 mil. Estou preocupada porque também temos que ficar de quarentena no Brasil, então se chegar em cima da hora complica.”
Tayná Franco, de 28 anos, é empresária e se preocupa com as restrições por um motivo a mais: ela está grávida de sete meses de sua primeira filha. Ela já havia comprado a viagem para a África do Sul com os pais há mais de um ano, mas a ida teve que ser adiada por conta da pandemia.
Os três chegaram ao país no dia 24 de novembro, apenas dois dias antes do fechamento ser anunciado. “Precisei de atendimento médico quando tudo começou a acontecer, eu fiquei muito nervosa, tive algumas reações e agora estou tentando acalmar para não entrar em pânico. Acho que quando a gente está na situação de gestante a gente fica mais vulnerável a qualquer doença ou notícia. No início a gente achou que fosse algo passageiro, que não fosse causar toda essa estripulia, como já foi outras vezes, só que está tomando proporções muito maiores do que esperado por nós. Claro que a insegurança, o medo e o desespero batem. A gente não tem certeza de nada. Estar fora do seu país já gera uma insegurança .”
Diferente de Priscilla, a empresária diz que o consulado tem tentando ajudar, porém sem soluções. Ela diz que quer voltar o mais rápido possível para o Brasil, para se juntar a sua família e curtir o fim da gestação. “Quero voltar logo, ficar tranquila e resolver essa situação. A solução parece bem distante da gente. Mas espero que tenha uma resposta rápida".
Restrições
O governo federal publicou no último sábado (27), uma portaria que proíbe temporariamente voos que tenham origem ou passagem, nos últimos 14 dias, vindos da África do Sul, de Botsuana, de Essuatíni, do Lesoto, da Namíbia e do Zimbábue.
A portaria também suspende, em caráter temporário, a autorização de embarque para o Brasil de viajantes estrangeiros, procedentes ou com passagem, nos últimos 14 dias antes do embarque, por esses países.
Pelo menos nove países já detectaram casos da ômicron, considerada uma variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os cientistas ainda não têm certeza da eficácia das vacinas contra a covid-19 existentes contra a nova variante.