Por Itasat
O suicídio tem causado um número elevado de mortes em todo o mundo. Os últimos dados compilados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) dão conta de 800 mil mortes no ano: uma morte a cada 40 segundos.
Quem faz um alerta sobre o assunto é a diretora do Departamento de Saúde Mental da OMS, a psicóloga argentina Dévora Kestel.
“A cada 40 segundos, alguém se suicida. Isso significa que, a cada ano, se perdem 800 mil vidas por essa causa. Cada perda é uma tragédia indescritível. Tanto para a pessoa que perde a vida como para os amigos, familiares, colegas e comunidades que estão atrás e, frequentemente, não recebem a assistência que necessitam. A juventude representa o futuro. O suicídio é a segunda causa de mortalidade entre as pessoas de 15 a 29 anos”, afirmou.
Os dados são especialmente preocupantes para a América Latina. Enquanto os índices no mundo caíram no intervalo de 2000 a 2019, no mesmo período, as taxas de suicídio subiram 17% nas Américas. No Brasil, a proporção é ainda maior: eram 0,31 casos a cada 100 mil habitantes em 2010. Já em 2019, o número saltou para 0,67 casos a cada 100 mil habitantes, conforme dados do Ministério da Saúde.
Assim como no restante do mundo, os casos em nosso país se concentram na faixa etária de 19 a 24 anos.
O suicídio causa mais mortes que várias doenças, como AIDS e câncer de mama. Mata mais do que guerras e homicídios. E por que o assunto não é tratado com mais destaque em toda sociedade? Filósofos, historiadores e lideranças religiosas vêm comentando sobre o assunto em palestras e programas de entrevistas. São figuras que vão desde o Padre Fábio de Melo, a Monja Coen e o educador Mário Sérgio Cortella.
O historiador Leandro Karnal comentou a respeito do tema.
“Muitos jovens ameaçam se matar como uma forma de atrair a atenção e outros ao tentar se matar para atrair atenção, se matam, de fato. O suicídio foi analisado por Durkheim na origem do sociologia. Ele estudou exatamente a sociologia do suicídio. A pergunta mais fundamental que a filosofia deveria dar pra todos nós, porque o suicida está dizendo ‘a vida não vale a pena’. E a reflexão filosófica deveria dizer porque a vida vale a pena”, declarou.
Quem também falou sobre o assunto à reportagem foi o filósofo Luiz Felipe Pondé.
“Você tem uma espécie de cenário no mundo contemporâneo que tem tornado os jovens cada vez mais frágeis. E o aumento do suicídio seguramente tem a ver com essa vulnerabilidade maior”, enfatiza.
O que dizem os especialistas
A Itatiaia joga luz neste assunto ouvindo especialistas que pesquisam e trabalham com o tema no cotidiano. A primeira a falar é a psicóloga e pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sabrina Freitas. Ela destaca o aumento de casos de tentativas de suicídio infantil.
“No geral, a respeito do suicídio na infância, a gente observa que a sociedade ainda tem uma grande dificuldade de legitimar e de entender que crianças podem, sim, se implicar em num comportamento suicida. É um fenômeno que tem sido recorrente na prática clínica, os dados epidemiológicos também mostram essa progressão. Diante dele, não tem nem literatura e nem instrumentos de identificação e nem intervenções precoces que contemplem essa faixa etária”, destacou.
De acordo com a pesquisadora, as crianças começam a entender o que é a morte a partir dos seis anos de idade.
“Por essa questão da maturação cognitiva, a partir dos seis, sete anos, a criança já começa a assimilar os três conceitos que se referem à morte: a irreversibilidade, que não tem como mais voltar à vida, a universalidade, que todos os seres vivos morrem, e não funcionalidade, que o corpo para e as funções vitais cessam diante da morte. Se uma criança antes dessa faixa etária se implica em um ato autolesivo, não necessariamente pode classificar como suicídio, porque, para ser suicídio, tem que ter a intenção de morrer e saber o que é esses três conceitos”, explicou.
“Não é possível apontar motivos específicos. O suicídio é um fenômeno que tem múltiplas causas que levam a pessoa a tirar a própria vida. São questões de ordem biológica, psicológica e até social. Um conjunto de fatores”, complementou Sabrina Freitas.
Professor da UFMG e diretor do Departamento de Psiquiatria Infantil da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Alvim Soares defende que a discussão seja mais ampla.
“É um tema de grande relevância, porque temos visto uma piora da saúde mental de crianças e adolescentes nos últimos anos. As estatísticas nos mostram um aumento nos casos de depressão, de tentativas de suicídio, comportamento agressivo. Isso vem aumentando com certa frequência. É importante que a gente faça uma discussão aprofundada, tem que conscientizar as pessoas, indicar os sinais de alerta, mas sobretudo mostrar os caminhos possíveis de tratamento”, disse.
Se você precisa de ajuda sobre este assunto – o suicídio, pode ligar no CVV – o Centro de Valorização da Vida. O telefone é o 188.