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Especialistas abordam necessidade de combater preconceito a transtornos mentais

Mesmo em caso de transtornos graves, é possível seguir uma vida normal

23/05/2022 10h57
Por: Redação

Com Itasat

Quem sofre de transtorno mental pode sentir-se ofendido quando escuta alguém que desrespeita a sua condição com falas comuns no dia-dia das pessoas, já enraizadas no colóquio popular, tais como: “Eu vou te internar, seu doido”; “Você está ficando doido?; ”Deixa de ser doida”; “Isso é coisa de doido(a)”.

Durante essa semana, a Itatiaia te convida para adentrar ao mundo dos portadores de sofrimento mental, especialmente aqueles com transtornos considerados graves. É necessário combater o preconceito, mostrando que é possível seguir uma vida normal em muitos casos, inclusive no mercado de trabalho.

Mas primeiro é necessário entender o que é um transtorno mental grave, quais os tipos mais conhecidos. Quem explica o termo é o psiquiatra do Hospital das Clínicas e do IPSEMG, e, também, mestre em neurociências, Rodrigo Barreto Huguet. 

“Os transtornos mentais mais graves tradicionalmente são os transtornos psicóticos, principalmente esquizofrenia e o transtorno delirante, quando há uma alteração do juízo de realidade, em que as pessoas ficam com confusão entre o que é real e o que não é. Por exemplo, as pessoas podem ter um delírio de perseguição, achando que estão sendo seguidas na rua. Podem ter alucinações, escutando coisas que não existem. Outro transtorno mental grave são os transtornos de humor. Em que há alteração dessa disposição afetiva básica. Seja uma depressão grave, que a pessoa fica muito triste, desmotivada, sem gosto da vida, talvez em alguns casos até com ideias de suicídio, ou o transtorno bipolar, em que além dos episódios de depressão, a pessoa tem episódios de euforia, em que ela fica muito agitada, falando muito, com pensamento acelerado, insônia e até gastando muito dinheiro”, explica.

O psiquiatra também explicou que questões genéticas também podem influenciar na incidência de transtornos.

“Por exemplo, a esquizofrenia, um transtorno psiquiátrico grave. Em gêmeos monozigóticos, com DNA igual, se um tem esquizofrenia, existe uma chance de 50% do outro ter. Existe a influência genética grave, mas não é só a genética”, completa.

Cenário familiar

Fora do meio científico, quem tem alguém da família com transtorno mental grave também pode dividir conhecimento e explicar como a doença aparece, quais os primeiros sintomas, como, por exemplo, esta mãe que não será identificada. Ela tem uma filha, hoje com 20 anos, com transtorno bipolar grave que recebe tratamento médico em BH, a senhora comenta quando os primeiros indicativos surgiram a partir do comportamento da filha. 

“Quando começamos a ver que as atitudes dela estavam se modificando, agressividade, desatenção, baixo rendimento escolar e depressão, alternando com estados de euforia. O transtorno bipolar dela foi diagnosticado com 17 anos, um ano depois dela passar pela primeira internação”, relembra.

Os primeiros sintomas de transtornos mentais graves podem surgir ainda na infância, mas o olhar deve ser mais apurado, conforme o psicanalista e professor universitário, Renê Dentes. 

“Apesar da criança estar com a personalidade em formação, muitas vezes é necessário esperar ainda por volta de 7, 8 anos, mas alguns traços já são nítidos. Por exemplo,  nos casos de psicoses, a criança manifesta um senso de irrealidade, diz que houve vozes, tendo alucinações e isso muitas vezes já é uma psicose. Então é preciso estar atento às manifestações que ela apresenta, muitas vezes isso está ligado a traumas que ficaram lá no passado e a formação de personalidade já está quase sendo concluída”, ressalta

Nestes casos, pode vir a ser, na idade adulta, um quadro de esquizofrenia, como explica Renê. 

“A esquizofrenia é uma das psicoses na classificação internacional de doenças e, no fundo, é uma personalidade quebrada. Se ela é formada  na infância e não é tratada devidamente, pode se agravar, a pessoa perde a identidade”, descreve.

Por fim, o psicanalista informa sobre a necessidade de observar os indícios evidenciados na infância, mesmo que a criança esteja em formação, se as variações de humor forem muito acentuadas, é necessário procurar um especialista.