Com Itasat
Em sabatina no Jornal Nacional, nesta quarta-feira (25), o candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atacou a operação Lava Jato, que acabou levando à sua prisão e, em sequência, à anulação de suas condenações, criticou a interferência do presidente Jair Bolsonaro (PL) em órgãos de fiscalização e garantiu que vai convencer o Congresso Nacional a acabar com o orçamento secreto.
Lula foi o terceiro entrevistado na sabatina do telejornal da Globo - depois do próprio Bolsonaro e de Ciro Gomes - e falou durante 40 minutos. Ele também foi questionado sobre economia, agronegócio, a influência do Movimento dos Sem Terra (MST) em um eventual novo mandato e sobre política internacional.
A primeira pergunta do apresentador William Bonner a Lula foi sobre corrupção e a operação Lava Jato, que levou Lula à cadeia em 2018 - e cuja prisão durou 580 dias. Bonner questionou Lula como um novo governo dele atuaria para impedir que novos casos de corrupção ocorressem.
O petista recordou ações adotadas durante o seus dois mandatos (2003-2010) e disse que os episódios de corrupção que surgissem seriam investigados e punidos.
"Foi no meu governo que a gente criou o Portal da Transparência, a CHU com ministro para fiscalizar, a Lei de Acesso à Informação, a Lei Anticorrupção, a Lei contra o Crime Organizado, o Coaf para cuidar das movimentações financeiras atípicas e o Cade para combater os carteis. No meu governo, o MP foi totalmente independente e a Polícia Federal teve mais liberdade que em qualquer momento da nossa história", afirmou.
O candidato também disse que o erro da operação Lava Jato foi enveredar para a política.
"O que foi o equívoco da Lava Jato é que ela enveredou para o caminho político. Ultrapassou o limite da investigação e ultrapassou o limite da política. O objetivo era condenar o Lula e eu falei com o Moro que ele estava condenado a me condenar", criticou.
Na sequência, Lula criticou medidas tomadas por Bolsonaro, como o sigilo em decisões da administração pública e a interferência em órgãos fiscalizadores, como a própria PF.
"Eu poderia ter escolhido um procurador engavetador, poderia ter feito isso, mas escolhi da lista tríplice. Poderia ter impedido que a PF tivesse delegado investigasse para que tivesse um que eu pudesse controlá-lo. Não fiz. Vamos continuar com os mecanismos para investigar qualquer delito de corrupção. Poderia ter feito sigilo de 100 anos, pro Pazuello e para os meus filhos, poderia não investigar, colocar um tapetão em cima de qualquer denúncia e aí não terá corrupção. Ela só aparece quando permite que as pessoas sejam investigadas", afirmou.
Perguntado sobre economia, Lula disse que o Brasil precisa de credibilidade, previsibilidade e estabilidade para que empresários brasileiros e estrangeiros possam investir e citou números de sua gestão.
"Quando eu tomei posse, tinha 10,5% de inflação, 12% de desemprego, o Brasil devia 30 bilhões ao FMI e a dívida pública era de 60,4%. Nós reduzimos a inflação para a meta, a dívida pública para 39%, fizemos uma reserva de US$ 270 bilhões e emprestamos US$ 15 bilhões para o FMI", disse.
Aliança com Alckmin
Lula também foi questionado sobre a sua aliança com Geraldo Alckmin. O ex-governador de São Paulo foi seu adversário nas eleições de 2006 pelo PSDB, mas, nestas eleições, aceitou ser vice na chapa encabeçada por Lula. O petista afirmou que o Brasil "era feliz" quando a polarização ocorria entre PT e PSDB.
"Era o nosso adversário político, a gente trocava farpas, mas se se encontrasse na rua, não tinha problema nenhum de tomar cerveja com o Fernando Henrique Cardoso, com o José Serra, com o Alckmin. A militância é como torcida organizada, na política é assim, você tem divergência, tem briga, mas não é inimigo", disse.
"A polarização é saudável no mundo todo, tem nos Estados Unidos, na Noruega, na Finlândia, em tudo que é lugar. Só não tem polarização no Partido Comunista Chinês, no Partido Comunista Cubano, mas quando tem mais de um disputando, a polarização é saudável, mas não confunda com estímulo ao ódio. Eu me dou muito bem com o PSDB, que foi meu adversário durante muito tempo", completou.
Orçamento secreto
Perguntado sobre a relação com o Congresso Nacional, Lula definiu o "orçamento secreto" como "usurpação do poder" e prometeu acabar com a destinação de emendas pelos parlamentares.
"Acabou o presidencialismo. Ele [Bolsonaro] não manda nada, parece um bobo da Corte, é refém do Congresso Nacional. Sequer cuida do orçamento. Quem cuida é o [Arthur] Lira, ele que libera verba. O ministro liga para ele e não para o presidente. Isso nunca aconteceu na história republicana", afirmou. "Vamos resolver isso conversando com os deputados", disse.