Com O Tempo
Com um território semelhante à extensão da Espanha, Minas tem o segundo maior colégio eleitoral do país com mais de 16 milhões de eleitores. Para conquistar cada voto que será depositado na urna em outubro, os candidatos ao governo fazem uma via sacra ao longo de (quase) todas as regiões do Estado, sempre com a missão de se aproximar dos líderes políticos locais, estreitar a relação com o eleitorado e bases políticas já consolidadas, mas também para se tornarem conhecidos em redutos de oponentes. No caso dos dois candidatos mais bem colocados na disputa, a estratégia, até agora, tem sido centrar fogo em regiões onde terão mais receptividade, em vez de tentar adentrar “território inimigo”. O governador Romeu Zema (Novo) focou cidades mais ao Sul do Estado, locais evitados pelo adversário, o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD).
O candidato do PSD foi o que mais pegou a estrada. Apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele foi a 28 municípios, que somam mais de 5 milhões de eleitores, de 5 de julho até a última terça-feira. De fora da sua rota ficaram municípios das regiões Sul, Sudeste e Campo das Vertentes, onde seu principal opositor é mais popular.
A região Sul é onde Kalil aparece com percentual mais baixo na última pesquisado instituto DATATEMPO, divulgada em 23 de agosto: 5,9%. É também onde a distância de seu principal opositor é maior: Romeu Zema tem 61% da preferência do eleitorado. O Campo das Vertentes é outra região onde o candidato do Novo é bem votado, com 55% dos votos (Kalil tem 21%). A região Noroeste foi visitada uma única vez, e é onde o ex-prefeito tem o segundo pior resultado, com 7,7% dos votos.
Já o candidato do Novo visitou 16 cidades mineiras, priorizando a Zona da Mata e o Triângulo – as cidades visitadas por ele somam 3,2 milhões de eleitores. Ele deixou de lado cidades do Vale do Jequitinhonha, Noroeste, Vale do Mucuri, localizadas em regiões onde a esquerda tem mais adesão, e o Campo das Vertentes.
Na Zona da Mata, onde ele tem a preferência de 44,7% dos entrevistados na pesquisa DATATEMPO contra 13,7% de Alexandre Kalil, Zema visitou Visconde do Rio Branco, Viçosa e Ubá.
Procurada, a assessoria de Zema informou que não comenta estratégias de campanha. E nenhum representante da campanha de Kalil quis comentar os planejamentos das viagens do candidato.
Melhor seria tentar furar bolha com caciques locais’, diz analista
Com a campanha oficialmente autorizada pela Justiça desde 16 de agosto, os candidatos ao governo de Minas terão apenas 47 dias para explorar os 853 municípios do Estado. Por isso, traçar rotas estrategicamente e escolher destinos que possam expandir alcance e realmente render frutos nas urnas se tornam especialmente importantes. Diante da extensão do Estado e de seus perfis muito variados, contemplar o maior número possível de regiões fica ainda mais relevante.
A cientista política Diva Moreira avalia que apesar do amplo uso de redes sociais atualmente, os estrategistas das campanhas precisam, necessariamente, adotar viagens de campanhas para ter acesso a diferentes tipos de perfis do eleitorado, sendo, principalmente, o feminino. Segundo ela, mesmo com o fato de o WhatsApp e outros aplicativos de mensagens estarem cada vez mais difundidos entre a população, o percentual de engajamento em grupos sobre política ainda é pequeno.
“Entrar em contato próximo com seus eventuais eleitores é bem recebido por eles. Sentem-se lembrados e reconhecidos pelos candidatos. Dados de 2021, mostram que no Brasil há 120 milhões de contas no WhatsApp e a previsão é que esse número chegue a 147 milhões neste ano. No entanto, apenas 15,3% participam de grupos sobre política, constituídos majoritariamente por homens. Acontece que esses grupos estão muito polarizados e entupidos de desinformações. Daí, não se deve perder a oportunidade de fazer viagens e de procurar conversar diretamente com os eletores, em especial as mulheres”, afirmou.
Ao contrário das estratégias de Zema e Kalil, que priorizam regiões do Estado em que são mais aceitos, Diva acredita que a melhor opção seria começar com o objetivo de furar a bolha ao escolher locais em que são menos aceitos nas primeiras viagens.
“Eu considero mais acertado a tentativa de furar as bolhas, porque o poder local é muito forte em Minas Gerais. Se pudesse fazer uma escala de viagens, elas deveriam começar por aí”, avaliou.
Em exercício: No caso de Romeu Zema, o levantamento de viagens levou em conta também a agenda oficial do governador, já que há casos em que ele cumpriu compromissos de campanha nas mesmas cidades para as quais viajou representando o governo estadual.
Mais de uma vez: Municípios que foram visitados mais de uma vez, mas em dias diferentes, foram considerados somente uma única vez no levantamento.