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Luto

Morre Rodrigo Paiva, ex-vereador de Sete Lagoas

Veja entrevista feita com ele em 2018

25/03/2023 11h00Atualizado há 2 anos
Por: Redação

Sete Lagoas se despede de Rodrigo Paiva de Andrade, ex-vereador e professor universitário

 

Relembre entrevista de 2018, feita pelo Sete Dias

 

O que Sete Lagoas representa para o senhor?

Representa tudo. Sou filho daqui. Minha família se tornou tradicional aqui, porque na época éramos 12 filhos. José Duarte de Paiva era o meu avô. Tenho tudo a ver com Sete Lagoas. Tenho muito prazer em fazer um comentário quando participo de algum evento fora de Sete Lagoas de falar, com ênfase, que sou filho de Sete Lagoas.

 

 

Quais fatos em sua vida pública marcaram mais?

Bom, tive diversas coisas. Mas uma para mim é o máximo. Em 1969, 1970, era Arena e MDB. Quando fomos formar a chapa do MDB, ninguém que se dizia militante queria se candidatar a vereador. Fizemos um trabalho bem sério, eram 15 vereadores à época, não havia remuneração, embora fosse cargo eletivo. Fui eleito. Ganhei com 681 votos. A gente fazia reuniões às terças e quintas, se não me engano. Ficamos pensando em como, mas realinhar politicamente, pois tomamos de 10 a 5 – a maioria dos vereadores era da Arena – então, o que vamos fazer? Vamos fazer oposição? Não, não vamos fazer oposição, não. Vamos analisar a coisa que seja justa. Não é o voto político -partidário não. Quando eu estava tomando posse em dezembro, Alberto Moura (prefeito) veio conversar comigo junto com Afonso Henrique Paiva Paulino, que era secretário de Obras. Ofereceram-me a Secretaria da Fazenda. Falei que não tinha a mínima chance. Nós teremos quatro vereadores comigo saindo, então não vou aceitar não. Mas eles disseram que eu mesmo disse, a princípio, que não ia ter problema político. Aí fizemos uma consulta ao TRE. Aceitei. Fiz uma coisa que ninguém acreditava: era secretário até às 17h, daí em diante ia para a Câmara – a maioria dos assuntos já tinha passado por mim na Fazenda – foi um trabalho bom, sério, e foi até a admirar mais ainda Alberto Moura,  uma das pessoas mais íntegras que conheci. Então, esse é um fato, para mim, inusitado. O outro caso é de uma briga de Afrânio com um vereador – não vou citar o nome porque não quero defender e nem quem não está mais aqui para se defender – mas o cara falou lá na sessão, na reunião, na prestação de contas de Afrânio, que ele era ladrão. Quando terminou a reunião fomos, eu, Tinho e Sebastião Corrêa, na casa dele, na rua Plácido de Castro, onde ele morava até há pouco tempo. Nós chegamos lá e contamos o caso e ele ficou bravo. Ele disse que no outro dia iria à Justiça procurar Dr. Wilson Veado – juiz de Direito à época na Comarca de Sete Lagoas – e, quando era na manhã seguinte, indo para a Prefeitura, a pé, não tinha carro à época, morava na Chácara do Paiva, subia, passei na Cooperativa, naqueles armazéns, estava todo mundo lá. Vida de fazendeiro começa é às 4h. Eu passei por eles, cumprimentei, o vereador saiu de lá com a cara toda esparadapada e eu perguntei: “O que foi isso, fulano?” Ele disse que foi a conversa fiada nossa, não sei o quê. Eu falei: você está querendo é tomar outro tapa. Que conversa fiada é essa que você está falando? Sabe uma das primeiras coisas que fiz? Fui a Taquinho, secretário executivo da Câmara, e pedi para ele transcrever o voto do vereador. Tenho isso aqui e posso mostrar. Dr. Wilson Veado julga. Se é que você vai entrar com o pedido (na Justiça). Ele pediu. Ele pediu e Dr. Wilson Veado fez exatamente o que nós tínhamos dito. Mandou aditar a cópia da certidão da Câmara. Quando foi o dia do julgamento, Dr. Wilson Veado falou que era “uma satisfação a presença de Dr. Afrânio” ali (no Fórum), pois esse processo “trouxe Afrânio aqui, coisa que eu nunca consegui, para visitar a gente”. Segundo, que Afrânio tinha que dar era outro soco nele, deixar dois supercílios deles abertos. “E se o senhor conversar muito, vou mandar prender o senhor”. Acabou, o processo foi arquivado. Morreu ali, 24 horas depois.

 

O senhor tem esperança no futuro do país?

Você está parecendo a Globo. A Globo está perguntando para a gente formar uma opinião.

 

 

Então retiro a minha pergunta.  Eu reformulo. O que o senhor espera com essa atitude de, mesmo não precisando votar, ir à urna?

É um ato de caráter interno, íntimo. Você é que tem que decidir. Desde 1963 sou eleitor. Já faz um bom tempo, não é? Então não tenho opção, tenho que escolher. Agora o critério é muito mais fácil, para mim, agora, do que antes. Antes eu votava pressionado por um emprego, era ameaçado de ser mandado para um cemitério, muitas vezes meu silêncio irritava muito mais, pois eu fazia bem. Pensando bem, o que justifica eu não votar? É opção minha. Se eu votar, não vai alterar nada. Se eu votar, não vai alterar também. Se, até lá, eu  tiver uma pessoa que possa consolidar alguma coisa para fazer por Sete Lagoas, eu terei não só o prazer de votar como pedir para votar nessa pessoa. Mas, obrigação eu não tenho não. Essa “obrigação” eu vou curtir até o fim.

 

Olhando a vida desde o começo da vida pública até hoje, o senhor diria que tudo valeu a pena, parafraseando o poeta português Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”?

 

Realmente não é (ri). Ela expande, ela cresce, ela te induz, tem toda série de qualidade. Agora, o problema todo que hoje Sete Lagoas vive é que Sete Lagoas tem um deputado comprometido, quando eles é que tinham que se comprometer com ele. Então ele é um cara tão humilde, boa, tive poucas oportunidades de conversar com ele, o Douglas Melo, o resto nós já conhecemos. Deem a ele a personalidade que está faltando que ele tem tudo para ser um bom deputado. Ele está aprendendo. Ele não teve um ano de Câmara Municipal e tem três anos de deputado estadual. Ele é um cara que está crescendo. Ele já percebeu que em determinadas rodas ele tem que falar grosso, em outras ele tem que falar fino ou calar, talvez esse seja o problema dele. Dúvida com relação a decisão. Mas ele corrige. Esperamos, não é?

Quem foi Rodrigo Paiva?

 Filho de Aurélio Fernandino Andrade, Rodrigo  Paiva de Andrade é casado com Gilda Abreu Andrade, família Abreu de Prudente de Morais. O casal tem três filhos, todos casados: Cristiano, Juarez e Renata. Avô de seis netos. Professor universitário, formado em Direito, lecionou por 18 anos na Faculdade de Direito do UNIFEMM.  Luta contra o mal de Parkinson  e não se entrega. Gosta de sair e conversar com os amigos. Para ele, sete-lagoano de nascimento, uma letra significa muito. É a letra “a”. “Sou filho de Aurélio, trabalhei com Afrânio , trabalhei com Alberto Moura”, resume. Para ele,  Afrânio foi  o maior político que Sete Lagoas teve (se emociona) e tem. Rodrigo Paiva passou  em um  concurso público na Prefeitura de Sete Lagoas e trabalhou com Afrânio quando ele era prefeito, sendo chefe de Gabinete dele por 10 anos – um mandato de 6 anos e outro de 4 –  além de secretário municipal de diversas pastas neste período, e de ter sido o primeiro secretário de Meio Ambiente no Brasil (administração Sérgio Emílio) e  diretor geral do SAAE.