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Cruzeiro

Sérgio Rodrigues detalha estratégia para reduzir dívidas e recolocar Cruzeiro na Série A

Em entrevista, novo presidente celeste explicou plano para tirar clube da pior crise da história às vésperas do centenário

29/06/2020 13h55
Por:

Por EM

Há menos de um mês no cargo, o presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, tem um desafio enorme pela frente. Com dívidas de cerca de R$ 800 milhões e crescendo, a equipe na Série B do Campeonato Brasileiro e em meio à pandemia de COVID-19, que não permite a disputa de jogos, ele busca saídas para manter o clube não só funcionando, mas em condições de voltar à elite do futebol brasileiro já em 2021, ano do centenário do clube. A aposta é na gestão profissional, parcerias com patrocinadores, criatividade e de proximidade com os torcedores. Até mesmo a venda de patrimônio pode ser feita, desde que obedecendo a critérios claros e com aprovação do Conselho Deliberativo, como determina o estatuto, cuja reforma, aliás, tem o apoio dele. “Nossa gestão é marcada por menos subjetivismo e mais objetivismo.” Confira os principais trechos da entrevista.

Prazo para voltar a brigar por grandes títulos

Sinceramente, é difícil dar esse tempo, porque por mais que a gente conheça (a situação) muitas surpresas aparecem. E também vai depender de como vamos performar não só desportiva, mas também economicamente diante dos produtos que estamos apresentando, das parcerias que estamos firmando. Claro que se fizermos um bom trabalho e a torcida abraçar, pois pretendo contar com muitas novidades que vão depender de a torcida consumir, podemos fazer isso em um prazo mais curto. O que ressalvo é que nosso balanço não é muito diferente de seis ou sete que disputam a Série A. Botafogo, Vasco, Inter, Atlético, Fluminense podem não ter dívidas de curto prazo tão grandes quanto o Cruzeiro, mas os balanços de forma geral são parecidos ou até piores que o nosso. Então, vai depender desses fatores para definir o tempo, mas temos confiança na volta à Série A e um time competitivo para o ano que vem também.

Administração da dívida

Você vê o Flamengo, que está organizado, faturou quase R$ 1 bilhão no ano passado, mas tem dívidas de R$ 550 milhões. Tem de ver o perfil da dívida. Temos de saber trabalhar o perfil da nossa dívida, pagar a de curto prazo, negociar. E torná-la sustentável dentro do nosso faturamento.

Dívidas na Fifa

Há clubes com os quais a dívida não venceu que negociamos direitos de atletas. Outros estão aceitando parcelamento. Tirando as da Fifa, todas as outras dívidas são negociáveis, dentro do sistema jurídico brasileiro (...). Se for um banco, um fornecedor, uma dívida trabalhista. É uma coisa viável de fazer com sinceridade, demonstrando que a gente pretende fazer de diferente, é isso que queremos colocar. Se você pegar hoje, o que o Cruzeiro tem em aberto? Uma dívida trabalhista que está tentando penhora. O resto são processos em curso. Quer dizer que você não vai pagar? Não! Quer dizer que vou dar prioridade às dívidas em curto prazo. No momento em que tiver faturamento compatível, chamarei todo mundo para a negociação. É esse o objetivo do Cruzeiro.

Pressão por resultados

Estou preparado, até por já ter estado muito tempo no Cruzeiro, inclusive no futebol profissional por um ano e meio. Só acho que o que a gente deve buscar é mudança de parâmetro no futebol. Lembro que o Grêmio, quando foi campeão da Copa Libertadores (em 2017), tinha folha salarial de R$ 5 milhões. Então, não é impossível fazer futebol sem gastar muito. Talvez a pandemia vá mostrar que não só no mercado do futebol, mas em geral também, o quanto os salários estavam irreais em alguns setores, sendo o futebol o maior deles. Tanto que muitos jogadores tinham salários altíssimos no Cruzeiro, ganhando muito menos em outros clubes. Então, temos de ter inteligência técnica, contar com bons auxiliares para buscar esses bons profissionais com custos baixos. É possível ter time competitivo ainda que com salário menor. Esse é o nosso grande desafio. Mas mesmo que a gente monte o time assim e ele não performe como a gente espera, a torcida do Cruzeiro sabe a situação que pegamos o clube. A culpa todo mundo sabe de quem é, mas a responsabilidade é minha daqui pra frente, entrei sabendo disso.

Venda de jogadores

É uma realidade, o jogador é o principal ativo em curto prazo de um clube. Claro que tentaremos uma venda parcial, ou uma venda na qual o atleta possa ficar aqui. O objetivo maior é pagar o salário em dia e pagar a Fifa. Se precisar vender atletas, vamos vender. Qualquer um.

Formação de atletas

Quando fui (superintendente) de negócios internacionais da base do Cruzeiro, viajei duas vezes com o time. Em um dos torneios que ganhamos, na Eslováquia, tínhamos o Lucas França (goleiro); o Bruno Viana (zagueiro), que está em Portugal; o Fabrício Bruno (zagueiro), no Bragantino; o Roni (atacante), no Palmeiras. Se você pegar um time de 11, quatro estão bem no profissional. Temos potencial para desenvolver isso, sim. E é a saída.

Rivalidade com o Atlético

Não faço gestão preocupado com o Atlético. Até vi essas entrevistas (do Sette Câmara ao Superesportes), mas métrica por métrica, nós temos 14 grandes títulos: seis Copas do Brasil, quatro Brasileiros, duas Supercopas e duas Libertadores. Não vejo como alguém deixar de gostar de um time da grandeza do Cruzeiro.

Volta do futebol

Como falei de decisões técnicas no Cruzeiro, não me sinto apto a questionar o que os órgãos de saúde determinarem. Se falarem que é possível jogar, como a FMF pretende, serei a favor. Desde a eleição, quando questionado sobre a volta do futebol, disse que sou a favor da vida e da saúde. A FMF está preparando protocolo, mas não me sinto apto a dizer se é adequado ou não. Se a Secretaria de Saúde e prefeituras permitirem, vou obedecer. Mas, na minha opinião, futebol tem de ser em campo. E, no momento, sem público.

Jogos em centros de treinamentos

Para jogar em CT, são três pontos cruciais: dar estrutura para a transmissão por TV, homologação de vestiários e homologação de banco de reservas. Pode ser que a FMF flexibilize isso pelo momento complicado. Se isso ocorrer, acho que não só o Cruzeiro, mas todos os clubes vão querer jogar sem custo. Mas já há estádios oferecendo condições boas, custos mais baixos, já que será sem público. Todo mundo vai querer isso, gastar o mínimo possível, uma vez que o jogo não vai dar renda.

Relação com Mineirão/Minas Arena

Desde o primeiro dia de mandato, temos sentado, trocado intenções, buscando formas de fazer com que essa parceria aconteça. Não só pela boa relação, mas também porque é a casa do Cruzeiro, tanto que a torcida chama o Mineirão de Toca 3. Foi lá que conquistamos a maioria de nossos grandes títulos. Nosso objetivo é respeitar a grandeza da torcida do Cruzeiro. E será importante para o nosso programa de sócio-torcedor, que é ousado (foi lançado na semana passada a categoria Diamante, a R$ 1 mil/mês). Temos contrato em vigor, o que não impede que seja feita uma cogestão nos dias de jogos. Não queremos estádio para gerir eventos, nosso negócio é o futebol. Então, no dia de jogos interessa. Já ser concessionário não nos interessa.

Novas formas de receita

O grande desafio que temos hoje é saber ganhar dinheiro sem futebol. O chefe da NBA no Brasil, Rodrigo Vicentini, me perguntou o que a NBA vende. Eu, muito inocente, respondi basquete. Ele disse: “Não, a gente vende conteúdo. Na hora em que acaba um jogo, eu já estou sabendo quem eu coloquei na primeira fila de graça, para onde estou mandando o jogador da Grécia, da Rússia ou de outro que já tem material chegando, eu estou fomentando as outras redes, produzindo conteúdo e ganhando dinheiro com isso”. A gente tem de produzir e saber monetizar o conteúdo. Você pega clubes como Liverpool, River Plate e Flamengo, eles sabem monetizar no YouTube. Por que não podemos monetizar? Já fizemos em 20 dias subir 10% a 15% as redes sociais do Cruzeiro de um modo geral. Esse é o nosso objetivo de engajamento para buscar outras formas de monetização. Queremos mostrar que o futebol também é entretenimento (...). Claro que isso vai ficar mais claro quando tiver jogo com torcida, pois vejo no match day uma grande forma de viabilização financeira para os clubes de futebol. Só vamos conseguir no ano que vem. Enquanto isso, as redes sociais e a forma de trabalhá-las servem para mostrar isso. Cabe a nós nos cercar de pessoas boas para nos reinventarmos. Trouxemos Henrique Portugal, Gustavo Caetano, Rodrigo Moreira… fizemos equipe apaixonadamente profissional, todos muito cruzeirenses e respeitados em seu ramo. Na área técnica, trouxemos gente de Coca-Cola, de Audi, de Fiat, de Vallourec… pessoas de mercado, que se não estivessem no Cruzeiro, trabalhariam em qualquer outra empresa.

Direitos de transmissão

Historicamente, quando todos se juntam para negociar é melhor, pois todos saem ganhando, gera competitividade. Ruim a MP 984 não é, ela é boa. Mas talvez da forma como tenha sido feita, poderia ter tido amplo debate para todos participarem e construir da melhor forma. Por exemplo, para os clubes pequenos eu penso que seja pior. Mas acredito que para os clubes grandes seja bom, porque há estrutura para fazer isso. Para pensar num futebol como um todo, acho que vale a pena ter uma discussão mais aprofundada sobre isso. E não sabemos se irá perdurar. É uma medida provisória, que precisa ser aprovada pelo Congresso.

Venda de patrimônio para pagar dívida

O Cruzeiro tem muito patrimônio, mas o primeiro passo é regularizar esse patrimônio. Além da questão estatutária, que prevê aprovação de 90% (do Conselho Deliberativo), hoje nem se a gente quisesse poderia fazer isso. A partir do momento em que estiver tudo certo, podemos ouvir propostas que levem a uma condição boa para o Cruzeiro. Hoje, os clubes sociais dão retorno de R$ 200 mil por mês. Dá para explorar melhor, o clube tem capacidade de ter mais sócios, mas para se tornar sócio você tem de pegar uma ficha, um abonador, voltar lá com uma foto 3x4 (…) São coisas que não condizem com o novo Cruzeiro que a gente está fazendo. Já estamos fazendo uma nova forma de usar o próprio site, pagar no cartão de crédito e associar dessa forma. É preciso explorar melhor as coisas lá dentro. 

Reforma do Estatuto e voto do sócio-torcedor

A gente tem que saber analisar cada caso, o Cruzeiro tem suas peculiaridades. O Athletico-PR, por exemplo, não tem clube social. O Flamengo já tem. Cada clube tem seu modelo. Sou a favor de um estudo e já conversei com a comissão que foi nomeada no Cruzeiro para buscar qual seria esse melhor modelo. Não acho que um sócio que paga R$ 12 por mês possa votar da mesma forma que o associado que paga R$ 150. Também não pode permitir que a pessoa se associe e vote no outro dia. É preciso criar regras de transição, prazo mínimo, chegar à conclusão sobre o melhor modelo. Sou favorável à democratização, mas sou contra fazer correndo para dar satisfação. Precisamos analisar os clubes que praticam isso para buscar nosso modelo e colocá-lo em prática. E isso só valeria para daqui a três anos.

Diretoria anterior

Nomeamos o escritório criminal. Foge do nosso controle. Infelizmente, ainda estamos refém do sistema, e acredito que a pandemia piorou muito. Mas tal como o torcedor, espero que seja feito o quanto antes. Acredito que tenham dados de transferência de dinheiro, quebra de sigilo, Coaf, essas coisas. Precisamos dessa materialidade para buscar o dinheiro perdido. Queremos não apenas a punição criminal, mas também a recuperação do dinheiro que supostamente foi desviado ou gasto de forma irregular.