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Venezuela

Em entrevista, Juan Guaidó diz que 'não há opção de rendição' na Venezuela

Em entrevista exclusiva ao Correio, Juan Guaidó, 36 anos, afirmou não ter dúvidas de que será reeleito, hoje, para seguir liderando o Legislativo

05/01/2020 10h10
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Em 18 dias, o homem que comanda a Assembleia Nacional da Venezuela completará um ano como presidente autoproclamado do país, reconhecido por mais de 50 nações como o legítimo chefe de Estado venezuelano. Em entrevista exclusiva ao Correio, Juan Guaidó, 36 anos, afirmou não ter dúvidas de que será reeleito, hoje, para seguir liderando o Legislativo, o único poder controlado pela oposição ao presidente Nicolás Maduro. Os adversários de Maduro mantêm dois terços dos 167 assentos. No entanto, cerca de 30 legisladores opositores se exilaram ou se refugiaram em sedes diplomáticas, depois de terem a imunidade parlamentar cassada.

Para permanecer no posto, Guaidó precisará de uma maioria simples, ou 84 votos. Ele denunciou que o Palácio de Miraflores tem buscado, por todos os meios possíveis, anular a Assembleia Nacional. Guaidó considera naturais as críticas em relação a um suposto esmorecimento de sua liderança e assegura contar com o respaldo da maioria dos 31,6 milhões de venezuelanos — parte deles refugiada em países vizinhos e na Espanha. O líder autoproclamado lamentou a deterioração das condições de vida da população e a tentativa de Maduro de simular uma falsa sensação de normalidade. Para 2020, Guaidó tem uma promessa: “Nós vamos surpreender o mundo”.
 
Como o senhor vê a importância da reeleição da mesa diretora da Assembleia Nacional, hoje, e suas possibilidades de permanecer como presidente do parlamento?
 
Não temos dúvida de que seremos reeleitos hoje. No seio da Assembleia Nacional, se acordou que permaneçamos à frente da diretiva da mesma por mais um ano. As pressões de todo tipo — em particular, a violência e a perseguição contra nossos colegas deputados pela ditadura nos últimos meses — são uma medida da importância de o campo democrático seguir exercendo o controle do parlamento. Não por um capricho nosso, mas pela vontade que expressaram os eleitores venezuelanos quatro anos atrás, a qual, no exercício de nossas responsabilidades, temos defendido. A Assembleia Nacional da Venezuela é o único órgão legítimo em nosso país. O regime tem buscado anulá-la por todos os meios possíveis. Mais de 20 deputados tiveram de se exilar por perseguição política; um foi preso ilegalmente (Juan Requesens); outro está desaparecido (Gilbert Caro); e há um asilado em uma embaixada (Freddy Guevara). Apesar disso, seguimos contando com o respaldo da maioria dos cidadãos venezuelanos e o reconhecimento de 56 democracias.
 
Existe o risco de Nicolás Maduro atentar contra a escolha da mesa diretora e impedir a sua reeleição?
 
Maduro conta com o poder da força bruta. Com nada mais do que isso. Existe o risco de ele usá-la para impedir o desenvolvimento da Assembleia? Sem dúvida existe esse risco. Mas nós estaremos aqui para enfrentá-lo.
 
Há quase um ano, o senhor se proclamou presidente da Venezuela. Como responde a críticas de que sua liderança perdeu força?
 
Creio ser um fato normal a erosão do respaldo a qualquer político. Eu entendo isso, mais ainda nas circunstâncias tão anormais de meu país. No entanto, todos os estudos de opinião pública recentes indicam que seguimos contando com o respaldo majoritário dos cidadãos venezuelanos. Isso demonstra uma grande maturidade da população, que compreende as dificuldades que enfrentamos. Mas, também, uma grande responsabilidade para nós. Uma mensagem muito clara de que temos uma tarefa pendente a ser concluída e na qual não há opção de rendição.
 
O que mudou na Venezuela, desde aquele 23 de janeiro de 2019?
 
Creio que ocorreu uma mudança na Venezuela, em 2019. Não aquela que gostaríamos. Mas ocorreu uma transformação: o fim do chavismo como projeto político e ideológico. Isso acabou. O que fica é uma minoria, que se aferra para crescer com as vantagens do poder, fazendo negócios às custas da fome e da necessidade de milhões de venezuelanos.
 
Mas qual o balanço que o senhor faz da Venezuela de hoje com aquela do momento de sua proclamação como presidente?
Sem dúvida, as coisas pioraram para a população. A crise humanitária complexa persiste. A migração massiva de venezuelanos fugindo da violência e da fome, também. Hoje, há um deficit de 80% dos medicamentos nos hospitais. As vacinas e os retrovirais escassearam. Metade do país recebeu o ano-novo sem abastecimento de energia elétrica. O desabastecimento de combustível se agravou. Para criar uma falsa sensação de normalidade, Maduro liberou as importações de todos os tipos de produtos, mas, ao mesmo tempo, bloqueou a entrada de ajuda humanitária das Nações Unidas.
 
Como vê as denúncias de ameaças, prisões e subornos por parte do regime de Maduro para fazer com que os deputados vetem sua permanência no comando da Assembleia Nacional?
 
Não posso dizer que nos acostumamos, pois essa é a ideia que pessoalmente combato todos os dias. Essa tem sido e é a nossa luta. Maduro, obviamente, está muito interessado em que eu não siga neste cargo. Lamentavelmente, há fatores da oposição que coincidem com ele nesse propósito. Felizmente, a maioria dos nossos deputados se manteve firme. No entanto, a perseguição piorou contra eles.
 
O que o senhor espera da Venezuela em 2020 e da luta da oposição para retirar Maduro do poder?
 
Retomar a ofensiva política e a mobilização popular este ano. Nós, venezuelanos, não vamos nos render. Nós vamos surpreender o mundo.
 
A Assembleia Nacional da Venezuela é o único órgão legítimo em nosso país. O regime tem buscado anulá-la por todos os meios possíveis. Mais de 20 deputados tiveram de se exilar por perseguição”.