Jay Roach (mais conhecido pela franquia Austin Powers) filmou O escândalo seguindo a escola de Adam McKay (A grande aposta e Vice) – um dos roteiristas é Charles Randolph, que teve a mesma função no filme de McKay sobre a crise financeira global de 2008. O escândalo traz montagem nervosa, ritmo frenético e situações sempre no limite. Há algumas quebras de quarta parede, narrações em off e muita ironia. Por vezes, ele mistura elementos documentais e nos pegamos sem saber se aquilo foi real ou não.
Das três personagens, Kayla Pospisil é a única ficcional – foi criada a partir de depoimentos de mulheres assediadas por Ailes. Figuras muito populares da imprensa americana, Gretchen Carlson e Megyn Kelly estão muito bem representadas na tela – a semelhança entre Nicole Kidman e Charlize Theron com as figuras reais é impressionante.
Mas é Charlize quem captura todos os olhares. A caminhada, a confiança, a frieza, a voz que nunca se eleva, tudo faz parte da armadura para personificar o estilo Fox News – vale dizer, Megyn Kelly demorou a resolver abrir o jogo com Ailes, chefe com quem mantinha boa relação. O filme é aberto com a narração da personagem, que leva o espectador a se familiarizar com o mundo daquela corporação de mídia: do porão, o “chão de fábrica” dos jornalistas, até os escritórios onde estão os executivos que Ailes comanda.
“As pessoas não param de assistir (televisão) quando há um conflito. Elas param quando não há um”, diz, a certo momento da trama, Ailes. Mal sabia ele que os conflitos de bastidores que o tiveram como vilão se tornariam um prato cheio para a indústria do audiovisual.