RR MÍDIA 3
Coperlidere
Guanhães

Irmãs que perderam pais e irmão em acidente têm reencontro emocionante com cachorro desaparecido

Spike, que estava no veículo acidentado, foi encontrado após dois meses com a ajuda de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF)

03/03/2022 11h45
Por: Redação

Por Itasat

Em meio à dor de perder os pais, duas irmãs, de 8 e 11 anos, tiveram um reencontro emocionante com um familiar de quatro patas, o Spike, com a ajuda de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). À véspera do natal do ano passado, Diana e Alice sofreram um grave acidente na rodovia Fernão Dias, em Carmópolis de Minas, na região Centro-Oeste. Na ocasião, os pais das meninas e o irmão não resistiram e morreram. Além das crianças, o cachorrinho também sobreviveu ao acidente, mas desapareceu na via. 

A missão de encontrar Spike foi uma iniciativa da agente da PRF Fabrízia de Pinho Nicolai. Em entrevista à Itatiaia, ela conta que a ideia surgiu depois que ficou sabendo que havia um cachorro no veículo, que sumiu após o acidente. “A gente ficou sabendo pelo tio das meninas, que teve contato com elas já no hospital e disse que elas estavam chorando muito querendo o cachorrinho. Elas ainda não sabiam que os pais e o irmão tinham falecido”, explicou. 

Segundo ela, naquele momento, sentiu “necessidade de tentar fazer alguma coisa” para acalentar o coração das pequenas. “Dar um alento para as duas meninas, já que tinham perdido parte da família”, disse. Porém, não havia rastros dos animais e nem sinais de que ele poderia estar vivo. “Eu conversei com o colega que tinha atendido o acidente [Glaicon] e a equipe com o pessoal da concessionária. Todo mundo falou que não tinha visto o cachorro e que ele tinha sumido. A partir deste momento, acabou meu plantão e fui para casa passar o natal com a minha família”, revela. 

No dia seguinte, já era natal, e a agente entrou novamente em contato com o tio das meninas pedindo fotos do cachorro. “Eu fiquei muito incomodada com aquilo, achei que a gente poderia, quem sabe, tentar procurá-lo e se Deus quiser achá-lo. No dia 25 à noite, ele me passou as fotos do cachorrinho. Coincidentemente, o colega que tinha atendido o acidente no dia 24, estava de plantão no dia 26, como eu estava. Aí eu conversei com ele, expliquei e ele foi muito solícito em tentar me ajudar a procurar o cachorrinho”, destaca.

Naquele mesmo dia, eles avistaram o animal correndo na canaleta da rodovia Fernão Dias, porém não conseguiram capturá-lo porque ele estava muito assustado. “Ele correu muito atrás do cachorro, jogou pão e tudo, mas na hora que ia pegar o cachorro fugiu em direção ao mato”, contou. Foi neste momento que a agente teve a ideia de espalhar fotos de Spike pela região com um número de contato telefônico. “E assim foi feito, ele passou para o pessoal da região e a gente não teve mais notícias por um bom tempo”, afirmou. 

Sensação de dever cumprido 

No início de fevereiro, Diana, a criança que sobreviveu ao acidente e tem 11 anos, enviou mensagem para a agente contando que havia encontrado Spike. “Eu achei estranho porque ninguém tinha entrado em contato com a gente. Então pedi o telefone da pessoa que tinha passado a informação. Era a assistente social da cidade de Campo Belo, que tinha, inclusive, conversado com a família por causa dos corpos que foram levados para lá”, relatou Fabrízia. 

A assistente informou para a agente que o animal estava sendo cuidado por uma moça de uma lanchonete em Carmópolis. “Fomos para lá, conversamos com a dona Maria do Carmo, que é um anjo, adora cachorro e estava alimentando o Spike. Ela não estava com ele capturado, estava alimentando ele e ele morava no mato. Ele só ia pra comer e voltava para o mato. Muito assustado”.

“Como ela já estava alimentando ele há uns 15 dias mais ou menos, ele já estava tendo uma certa intimidade com ela, criando um vínculo com ela”, disse Fabrizia. No entanto, quando os policiais seguiram para lá, o animal fugiu novamente. “Nós pedimos para ela nos auxiliar, então ela passou a colerinha no pescocinho dele e os nossos policiais ficaram escondidos,” comentou. 

Em seguida, o animal foi colocado em uma gaiola de proteção e levado para o canil da superintendência. “Ele ficou do dia 4 fevereiro até o dia 1º de março. O tio tentou vir algumas vezes, mas as rodovias estão muito ruins aqui em Minas e teve esse problema também de carro. Então decidimos levá-lo até o local”. O animal viajou de Contagem a Guanhães, no Leste de Minas, cerca de quatro horas de viagem. 

“Foi maravilhoso o encontro, muito emocionante, realmente a Diana e a Alice tinham uma relação muito especial com o Spike [...] Na hora que chegou lá, o cachorrinho relaxou completamente e as meninas ficaram muito felizes. Fomos recebidos pela família do pessoal, que foi bastante hospitaleira”, admite. 

“O sentimento que fica é de dever cumprido [...] A gente tem a oportunidade de fazer a diferença. Deu uma trabalheira danada, mas conseguimos capturá-lo e levá-lo para a superintendência. Na hora que eu vi as meninas com o cachorrinho, todo mundo feliz e o próprio cachorrinho muito satisfeito foi muito gratificante. Na verdade, o objetivo da Polícia Rodoviária Federal é ajudar as pessoas em vários sentidos, combatendo a criminalidade, atendendo acidentes. Cumpri o meu dever. Fiquei muito feliz”, acrescenta. 

A menina de 11 anos não teve praticamente nada no acidente, porém Alice quebrou o fêmur e permanece de cadeira de rodas. “Ela ainda está com aquela gaiolinha no osso. Está até vindo para o hospital regional de Betim, onde ela faz o controle para ver como está. Talvez tenha que operar de novo, mexer na perninha novamente, mas está relativamente bem [...] Tem a questão de andar com cadeira de rodas, porque a gaiolinha não permite muitos movimentos. Mas se Deus quiser vai ficar tudo bem”, enfatiza a agente que revela que mantém contato com a criança, que contou que Spike está super adaptado na roça. “É um cachorro danado. Aquilo ali é um guerreiro”, conclui.