Por Itasat
Hoje é Dia das Mulheres e um dos feminicídios mais emblemáticos da história recente de Minas continua sem perspectiva de julgamento e, consequentemente, de justiça. É o caso de Lilian Hermógenes, morta a tiros em agosto de 2016, na frente da casa da família, no bairro Industrial, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O detalhe trágico é que Lilian trabalhava no Ministério Público, justamente na Vara de Direitos das Mulheres. O marido dela, o advogado Arthur Campos Rezende não aceitava a separação e foi apontado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público como o mandante do crime.
Arthur chegou a ficar preso por cerca de um ano, mas, por ser advogado, foi solto pela falta de celas especiais e, desde então, aguarda o julgamento em liberdade. Praticamente seis anos depois do feminicídio, ainda não há data marcada para o júri popular.
Os dois filhos do casal, que, na época, eram crianças, quebraram o silêncio e falaram pela primeira vez em uma entrevista exclusiva à Itatiaia. Relatos emocionantes de dois jovens que tiveram a vida dilacerada devido à violência contra a mulher e que, agora, esperam por justiça.
Gabriela Campos, hoje com 18 anos, relembra como foi o dia da morte da mãe.
“Estava na escola e, do nada, o diretor ligou. Falou assim: ‘Desce com a Gabriela, porque a mãe dela pediu pra madrinha buscar’. Chegando lá, ela gritava e falava: ‘Por que ele fez isso com ela?’. Falei assim: ‘Quem fez o quê com quem?’. Depois, veio na minha cabeça meu pai”, afirmou.
A filha de Lilian também comentou quando seu pai, Arthur, foi preso.
“Chorei, mas sabe aquele choro que você não sabe definir se era de tristeza ou se era de alegria? A gente era criança, mas via ela apanhando, passando pelas coisas, mas não tinha maldade. A gente sabia, mas não tinha o que fazer. Não podia pegar o telefone e ligar pra alguém”, ressaltou Gabriela.
A mulher falou à reportagem sobre o sentimento de injustiça após quase seis anos de luto.
“Injustiça. A gente está nessa vai fazer seis anos e não temos uma resposta. Toda vez tem o adiamento. Tudo que a gente pode fazer, a gente faz. Não tem uma audiência marcada pra tentar resolver. Não tem apoio das pessoas para saber o que está acontecendo, se realmente ele está numa prisão domiciliar. Saio na rua e até sinto medo. De, às vezes, acontecer a mesma coisa com a minha mãe comigo. De sair e encontrar com ele na rua igual já aconteceu”, enfatizou Gabriela.
O irmão de Gabriela, Arthur Campos, que tem 16 anos, em um relato emocionante, fala como é difícil crescer sem a mãe.
“Não tive o tempo de conhecer ela que nem a minha irmã. Conheci parte dela, nunca tive um um assunto sério, porque, com dez anos, só brincava nessa época. Ela colocava tudo na frente do meu olho para eu não ver que meu pai era o vilão da história. Pra mim, era o herói de tudo. Tanto que, na época, não queria aceitar de jeito nenhum”, declarou Arthur.
O filho ainda falou sobre a vontade de ver o pai pagando pelo crime que cometeu.
“Ele tem que pagar por isso, e o mais rápido possível. O que a gente passa é constrangedor. Não poder sair por causa dele, porque ele está saindo. Ele vai no shopping, a gente não pode ir ao shopping por medo de encontrar ele. A justiça tem que ser feita, ele tem que pagar por tudo que fez. Ele não merece estar solto por aí”, ponderou Arthur.
O julgamento da morte de Lilian Hermógenes continua sem data para acontecer.