Com Itasat
Um filho muito preocupado. É assim que Andréia de Jesus Costa descreve o filho, Pedro Henrique Costa, de 15 anos, que foi sepultado no Cemitério da Paz, na região Noroeste de Belo Horizonte, neste domingo (21). O adolescente foi morto na última sexta-feira (19), durante operação policial na Rua Cândido de Souza, próximo à Vila Embaúbas.
Emocionada, a mãe do garoto disse que ele era o seu “grande companheiro”, já que seu outro filho é casado e o adolescente passava a maior parte do dia com ela. “Quando ele chegava, ele me ligava, perguntava se estava no ponto, ele estava todo dia comigo em casa. Enquanto eu não chegava, ele me perguntava: ‘onde você está? Está no ponto? Fica na rua, não. Pega um ônibus. Vê se tem alguém aí. Fica perto’”, disse.
Com dezenas de pessoas presentes, incluindo professores, amigos e familiares, a educadora social do Instituto Bacana Demais, Idalgisa Ribeiro, explicou que acompanhava Pedro desde que ele tinha 6 anos de idade. Ela disse que ações policiais “truculentas” são frequentes na comunidade. “Essa truculência precisa parar. Isso precisa parar. As crianças precisam parar de ser massacradas [...] Muitos episódios acontecem. Eles entram, eles colocam os meninos de joelho por meia hora, por uma hora, por 40 minutos e nada é feito”, lamentou.
“E quem pesquisar sobre isso, vai ver que é uma comunidade de seis ruas, onde não há violência, onde não há briga, onde há um povo unido, onde todos se juntam e essa criança é uma vítima, uma vítima cruel de execução, execução sem absolutamente perguntar nada. Não foi perguntado nada a ele, ele foi retirar o celular, todos no entorno viram e ele foi executado”, acrescentou. A previsão é de que o corpo do adolescente seja enterrado nesta noite.
Versões diferentes
Os moradores da região da Vila Embaúbas, no bairro Nova Gameleira, afirmam que Pedro Henrique Costa, de 15 anos, não tinha envolvimento com o tráfico e que ele foi executado pela polícia. Já a PM diz que o jovem teria sacado uma arma e apontado para os policiais durante uma operação.
Segundo o boletim de ocorrência, nove disparos foram efetuados contra Pedro Henrique. O BO não diz, ainda, quantos tiros acertaram o menino. Enquanto a PM afirma legítima defesa, moradores tratam a ação como execução. Segundo moradores, o adolescente estava com amigos na escadaria da Rua Cândido de Souza, próximo à Vila Embaúbas, no bairro Nova Gameleira.
No entanto, de acordo com a PM, um denunciante anônimo disse que várias pessoas estavam aglomeradas, sendo duas armadas traficando drogas. “Ela repassa uma série de características desses autores armados e confirma, inclusive, que um deles possui uma arma de tambor, que seria no caso um revólver, que depois na nossa ação policial foi verificada junto ao autor, um calibre 38”, disse a porta-voz da PM, major Nayla Brunella.
“Confirmando essa denúncia inicial, as nossas guarnições foram para o local e planejaram uma ação. Era um local de difícil acesso com uma escadaria. Então a guarnição permaneceu abrigada atrás de um veículo para tentar fazer uma incursão. Nesse momento, um dos autores se desloca no sentido da guarnição policial, que recebe uma ordem de parada para ser abordado e ele saca a sua arma de fogo, um revólver calibre 38. Mesmo com a ordem policial para que dispensasse essa arma e colocasse as mãos na cabeça, ele aponta para a guarnição, momento em que ele é alvejado pelos nossos policiais militares”, acrescentou.
Porém, os moradores da região contestam as informações da PM e dizem que os policiais confundiram o aparelho de celular do garoto com uma arma. Os militares foram detidos em flagrante e tiveram suas armas recolhidas.
“Já no hospital, é importante salientar que um dos enfermeiros localiza mais munições que estavam no bolso do infrator. A polícia militar adota essas medidas e continua as investigações por meio de um inquérito policial para que todas as minúcias possam ser observadas, mas deixando claro que as ações iniciais, as testemunhas, os áudios e toda a descrição no boletim de ocorrência dão conta de uma ação policial legítima”, completou a major.
Os moradores alegam que a PM teria alterado o local da operação, recolhendo cápsulas de revólver. Outra divergência é referente a retirada do adolescente do local. Segundo a PM, ele foi socorrido com vida, mas morreu no hospital. Já os moradores afirmam que ele morreu ainda na rua e que foram impedidos de se aproximarem do corpo.