Com Itasat
Um repórter da Rádio Itatiaia foi agredido com um soco no estômago e teve o equipamento de trabalho confiscado dentro de uma delegacia da Polícia Civil, em Nova Lima, na Grande BH, no último sábado (27). O responsável pela agressão é um policial civil, candidato a deputado federal, que estava naquela unidade por suspeita de assediar uma menina de 13 anos.
O suposto crime contra a dignidade sexual teria acontecido em uma espeteria. A informação chegou à redação da Itatiaia por volta das 22h. Após a Polícia Militar (PM) confirmar a ocorrência de assédio, a reportagem foi até o local para noticiar o fato. O crime contra a dignidade sexual da mulher é combatido diariamente pelo jornalismo da Rádio Itatiaia.
Uma das testemunhas que estava na espeteria disse que o assédio ocorreu quando ela, a adolescente e a mãe da menina pediram a conta.
“Quando ela (amiga) chamou o dono do bar, ele (policial) entrou no carro, fez uma manobra brusca, virou o carro, parou do lado da nossa mesa e falou, ‘ô novinha de verde, você está me chamando? Aí foi que eu falei assim: você está falando com ela? Ele falou assim: é a novinha de verde. Falei: você está ficando doido? Você está mexendo com uma criança? 'Ele falou toma cuidado'. Falei assim: você está doido? Ela é uma criança’”, contou a testemunha.
Ainda conforme a mulher, o homem arrancou o carro, foi embora, mas voltou cerca de 1 hora depois. “Mandou um beijo pra mim e falou: pego a novinha na hora que eu quiser’. E ele foi tão covarde que para sair da situação de pedofilia, ele simplesmente, na hora que deu de cara com a minha cunhada, falou ‘essa aqui é puta. Puta eu não pego. Eu só pego miss’”.
A testemunha disse ainda que o policial insultou ela e o marido. “Ele simplesmente saiu da delegacia pela porta da frente e insultou meu marido. Meu marido simplesmente, na frente de um (outro) policial, avançou nele. Vou ter que entrar com medida protetiva, porque o cara sai daqui duas vezes, na porta da delegacia, e me peita. Você espera o que dele?”, disse a mulher, que também reclamou do tratamento recebido na delegacia.
“Estou indignada com um monte de homem que não teve o mínimo de postura de defender a gente como mulher. Para piorar a situação, quando chego na delegacia, falam que conduziram o cara, mas sem algema, sem nada, ele veio aqui fora na rua me ameaçar. Ele me ameaçou aqui na porta da delegacia. Agora, cinco minutos antes de vocês chegarem, ele saiu aqui fora e meu marido avançou nele. Por quê? Porque ele saiu de lá e debochou da cara do meu marido, como quem diz: não deu nada pra mim. Ele ia sair da delegacia primeiro do que a gente ainda”, diz.
Agressão
Após ouvir a testemunha, o repórter da Itatiaia, fazendo seu trabalho, diante de policiais civis e militares, procurou o suspeito, que andava livremente pela delegacia, para que ele desse a versão do que teria acontecido. A entrevista acabou não acontecendo. O policial se envolveu em uma discussão do outro lado da rua. Nesse momento, o repórter começou a filmar a briga.
Ao ver que estava sendo gravado, o policial atravessou a rua, foi até a porta da delegacia onde o repórter estava, tomou o equipamento das mãos dele, jogou no chão e entrou na unidade policial com o celular do repórter. Sem qualquer ajuda dos policiais civis e militares que estavam na delegacia, o jornalista foi atrás do homem em busca do celular e acabou agredido com um soco no estômago dentro da delegacia. O policial suspeito de assédio entrou para o banheiro com o celular do repórter e devolveu o aparelho somente após acessar os conteúdos particulares do jornalista.
Ocorrência
O repórter, após ser agredido dentro de uma delegacia, só conseguiu registrar um boletim de ocorrência contra o policial depois de muita insistência. Mas a ocorrência foi feita pela Polícia Militar e não pelos policiais civis.
Conforme fontes da Itatiaia, o policial já era investigado pela corregedoria por outras práticas de transgressão.
Polícia Civil
O delegado Saulo Castro, porta-voz da Polícia Civil de Minas Gerais, garante que a instituição não compactua com o comportamento do investigado.
A polícia civil de Minas Gerais informa que está apurando os graves fatos ocorridos na madrugada deste domingo, 28 de agosto, no interior da delegacia de polícia na cidade de Nova Lima envolvendo um policial civil e um repórter da rádio Itatiaia. Será instaurado o procedimento disciplinar na corregedoria, para investigar a transgressão praticada pelo agente público. Quanto à investigação criminal, a vítima foi encaminhada ao IML para exames. É necessário, entretanto, que a vítima se dirija à delegacia e ofereça representação, tendo em vista a natureza do crime, lesão corporal. A Polícia Civil de Minas Gerais reforça que não compactua com quaisquer desvios de conduta de seus servidores. E, como órgão garantidor de direitos constitucionais, assegura o livre exercício da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão”, disse.
Zema
O governador Romeu Zema também se pronunciou sobre o caso de agressão. “Primeiramente, gostaria de lamentar muito. Realmente é algo que não podemos tolerar dentro de qualquer instituição pública. E quero já deixar claro que pedi ao doutor Joaquim, chefe da nossa Polícia Civil, que seja aberto um procedimento imediatamente e que seja averiguado com a maior imparcialidade. Sempre falo que no meu governo não tem ninguém protegido, eu não tenho parente que trabalha no governo e quero que tudo seja apurado”, garantido apuração rápida da corregedoria.
Nota de repúdio da Itatiaia
A Itatiaia repudia com veemência a agressão sofrida pela nossa reportagem no exercício da profissão, na noite do último sábado (27).
Fomos todos agredidos, na pessoa de um dos nossos repórteres, enquanto fazíamos o nosso trabalho, de acompanhar uma denúncia de importunação sexual contra uma menina de 13 anos, registrada pela PM.
A agressão física e o confisco do material de trabalho do nosso colega de trabalho ocorreu quando esperávamos e insistíamos para ouvir o outro lado, prática indelével do jornalismo ético da Itatiaia.
A Itatiaia não vai se calar, se intimidar por nenhum tipo de ameaça.
Nós sempre fomos a voz da população e quando somos vítimas de violência dentro de uma delegacia, nos colocamos no lugar dos cidadãos comuns que não têm microfones para tornar público eventuais abusos do tipo.
Em nome disso, deixamos o nosso grito, nossa certeza de que o "isso não vai dar nada para mim" caberá cada dia menos em nossa sociedade.
Sim, somos todos passíveis das mesmas leis, somos todos cidadãos iguais que devem ser submetidos aos rigores da lei. Somos todos cidadãos com o direito de sermos protegidos dentro do local que simboliza a segurança pública, uma delegacia!
A Itatiaia não se cala e sempre gritará por Justiça.
Diretora de Jornalismo
Maria Claudia Santos