Esta semana marcou a conclusão de um longo processo que culminou na saída do Reino Unido da União Europeia (UE). A trajetória envolveu disputas intensas, um referendo, trocas de primeiros-ministros, tentativas de acordo frustradas e foi viabilizado após a realização de eleições em dezembro do ano passado, quando o partido conservador (Tory) obteve a maioria suficiente para encaminhar o acerto para a consolidação do abandono.
Com a saída, aprovada pelo Parlamento Europeu na quarta-feira (29), o Reino Unido deixa de fazer jus à condição de integrante da UE, bloco que congrega agora 27 países. Os Estados-Membro podem realizar transações comerciais livremente entre si e seus cidadãos também podem cruzar as fronteiras de cada nação. O bloco unificou suas moedas com o Euro, processo que teve entre as exceções o próprio Reino Unido, que manteve a libra esterlina. A Irlanda permaneceu como membro da União Europeia.
A partir de amanhã, até dezembro deste ano, o bloco e o país discutirão os termos da relação diplomática e econômica, as regras de circulação de cidadãos, as condições de residência e trabalho, tarifas e exigências nas trocas econômicas, incluindo a comercialização de bens e serviços.
O país se dividiu em uma intensa disputa com a realização do referendo sobre a proposta de Brexit. De um lado, conservadores argumentavam que a saída redirecionaria recursos repassados à UE para o Reino Unido e impediria a entrada de imigrantes. De outro lado, forças políticas favoráveis à permanência defendiam que esta trazia benefícios tanto nas relações econômicas com outros países quanto por meio de programas regionais que auxiliavam cidadãos e produtores.
O referendo foi concluído com vitória apertada do Brexit, por 52% a 48%, em um pleito que teve a maior taxa de participação desde 1992, com 72% dos britânicos indo às urnas. O então primeiro-ministro, David Cameron, renunciou em seguida.
Em julho, o Partido Conservador indicou Theresa May para o posto de Cameron. A ela foi incumbida a tarefa de conduzir as negociações para a concretização da saída, com prazo de gestão até 2020. Boris Johnson foi indicado para o posto de principal diplomata.
A Suprema Corte do país define que o processo do Brexit precisa passar pelo Parlamento, confirmando decisão tomada no fim do ano anterior.
Em março, a primeira-ministra Theresa May envia carta ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disparando o período de dois anos de contagem regressiva para a conclusão do Brexit, que deveria ser finalizado até março de 2019.
Em abril, Theresa May convoca novas eleições para junho. A aposta era tentar construir maioria para concluir as negociações com a UE.
No pleito, os conservadores perdem a maioria no Parlamento. O partido é forçado a costurar um acordo com uma legenda da Irlanda do Norte para constituir um novo governo, acerto que é ratificado pela Rainha Elizabeth II.
Em julho, as negociações começam oficialmente. Os principais pontos giravam em torno da multa a ser paga pelo Reino Unido por conta da saída da UE, as regras de comércio e circulação pós-saída e a situação da fronteira entre a Irlanda, que continuaria no bloco, e a Irlanda do Norte, que sairia juntamente com o Reino Unido.
As negociações avançam nos primeiros meses, após o Reino Unido ceder em parte dos pontos mais polêmicos. Em março um esboço do acordo é publicado, mas ainda com diversos itens sem consenso. Em julho, May publica uma proposta de “Brexit leve”, com formas de parceria com a UE. Diversos ministros, entre eles, Boris Johson, renunciam, em protesto.
Em novembro, a União Europeia aprova acordo de saída do Reino Unido, abrindo caminho para efetivar o Brexit. O documento abordava como seriam as relações entre o país e o bloco após a conclusão do processo, a multa a ser paga, condições relativas à fronteira da Irlanda (uma vez que o país continuaria membro da UE).
No início do ano, May coloca em votação no Parlamento uma proposta de acordo, mas é derrotada. Ela tenta novos arranjos, uma espécie de “plano B”.
Em março, uma nova proposta é submetida à votação, sendo novamente derrotada. Em nova tentativa, o Parlamento rejeita pela terceira vez a minuta de acordo submetida por May.
Em maio, May apresenta outro modelo de acordo de retirada, mas a proposta é rejeitada tanto pela oposição quanto pelos membros do próprio partido conservador. Diante das derrotas, a primeira-ministra renuncia ao posto.
Em julho, Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, ex-diplomata de destaque na gestão de May e um dos cabos eleitorais mais notáveis da campanha do Brexit, é escolhido primeiro-ministro. O plano era aprovar o Brexit até 31 de outubro.
Johnson tenta uma manobra para encaminhar a proposta. Ele solicita à rainha a suspensão do Parlamento, sendo atendido, e tenta votar o acordo durante este período, mas é barrado pelos parlamentares, que desmontam a movimentação. Um novo prazo é estabelecido para o dia 31 de janeiro. Diante de uma margem apertada no Legislativo, Johnson faz uma aposta de risco e convoca novas eleições para o fim do ano.
O primeiro-ministro sai vitorioso no pleito, ganhando mais do que os 326 lugares no Parlamento necessários à maioria para viabilizar o acordo. Foi uma larga vitória para os conservadores e uma grande derrota para os trabalhistas. Líder da oposição, Jeremy Corbyn anuncia, em seguida, sua renúncia.