Pesquisas recentes destacam um cenário preocupante para a educação no Brasil. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), divulgados em 2021, mostram que 70% dos alunos de licenciatura em exatas desistem do curso, enquanto a Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp) aponta que, em 2023, 55,5% dos alunos de graduação em geral não concluem seus estudos. Além disso, o o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) revelou que, em 2022, 30% dos professores da educação básica estão próximos da aposentadoria. Diante desse quadro, a professora Kátia Cristina Marcolino, pedagoga e docente dos cursos de TI na faculdade FAEP, diz que é urgente repensar e recalcular as rotas das licenciaturas e da formação de professores no país.
No dia 27 de maio de 2024, o Diário Oficial da União publicou decisão do ministro da Educação, Camilo Santana, sobre a aprovação das novas diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE), determinando que os cursos de formação de professores tenham no máximo 50% do tempo à distância e o restante presencial. A Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) manifestou-se contra a medida, afirmando em carta aberta que ela poderá resultar em uma queda significativa no número de professores formados nos próximos anos.
A professora Kátia destaca que as dificuldades financeiras e a desvalorização dos profissionais da educação não são novidades. "Não é de hoje que noticiam as dificuldades financeiras e a desvalorização dos profissionais dessa área, que têm sido inclusive vítimas de insultos e piadas feitas por influenciadores digitais comparando seus salários aos deles e a facilidade em ganhar muito sem esforços", comenta Kátia.
Essa desvalorização afeta diretamente a percepção das crianças e jovens sobre a profissão de professor, tornando-a menos atrativa como opção de carreira. "O professor que tem recursos financeiros limitados sabe que, para ele, a educação continuada é a garantia de atualização e de poder realizar seu trabalho com qualidade. Porém, com as extensas cargas de trabalho e muitas vezes atuando em várias localidades, sobra pouco tempo para conciliar os estudos ao trabalho", observa Kátia.
A falta de estrutura nas escolas e os desafios na gestão da sala de aula, juntamente com as baixas perspectivas de carreira, levam muitos a se desiludirem com a licenciatura e a desistirem de seguir essa profissão. "Não é possível fazer muito com apenas um giz e amor à profissão; é preciso investimentos, apoio aos profissionais e comprometimento com a educação", enfatiza a professora.
Ela também critica a ausência de desenvolvimento de competências socioemocionais e criatividade nos currículos das instituições de ensino. "Hoje se fala tanto em desenvolvimento de competências socioemocionais, mas onde as instituições de ensino incluem essas habilidades em suas formações? Em que instituições a criatividade é considerada como uma ferramenta essencial?", questiona Kátia. Para ela, é crucial preparar os professores para os novos desafios da educação, incluindo estratégias para fomentar a criatividade através do teatro, música e literatura, além de experimentar o uso de metodologias ativas.
A professora destaca a necessidade de formar profissionais capazes de lidar com tecnologias educacionais e de disseminar a cidadania digital, sem medo de inovar. "É fundamental repensar os cursos de licenciatura com mais foco na formação de professores criativos e inovadores, capazes de lidar com as tecnologias educacionais, que sejam disseminadores da cidadania digital e que não tenham medo de ousar e sair do senso comum", argumenta.
Por fim, Kátia ressalta a importância de cobrar investimentos justos dos governantes para a atualização dos cursos de licenciatura, visando formar professores qualificados para proporcionar uma educação de qualidade. "Precisamos nos valer de nossos direitos enquanto cidadãos e cobrar de nossos governantes investimentos justos para que tenhamos cursos de licenciatura atualizados, capazes de formar professores qualificados para proporcionar uma educação de qualidade, transformando o Brasil num país inovador, capaz de atender demandas internacionais com competência e excelência e, principalmente, formar cidadãos mais qualificados, conscientes, críticos e informados".
Concluindo, a educadora reforça a ideia de que o futuro do país depende da educação, apesar da negligência e desrespeito enfrentados pela classe docente. "Sem querer ser clichê, afirmar que o futuro do país depende da educação parece óbvio, mesmo assim os governantes e a sociedade insistem em negligenciar e até mesmo desrespeitar essa classe que é a única capaz de formar profissionais de todas as outras áreas".