Um motorista de ônibus foi vítima de injúria racial nessa segunda-feira (16) na avenida Afonso Pena, no Centro de Belo Horizonte, enquanto trabalhava na linha 4103 (Aparecida/Mangabeiras). Ele foi chamado de “macaco” por um homem que dirigia um carro de passeio e teria desagradado de uma manobra do condutor do coletivo.
Policiais militares que estavam em uma viatura que passava pela Afonso Pena prenderam William José Santana, de 42 anos. Revoltados, passageiros que estavam no ônibus entoaram gritos de ‘racista’.
Chateado e abalado, João Raulino da Cruz, de 58 anos, que é pai de família, desabafa: “Somos seres humanos como os outros, igual o branco. Por que a pessoa é branca tem que chamar o outro de macaco? Não tem nada a ver uma coisa com a outra. O mesmo direito que o branco tem o preto também tem”.
João relata que tudo aconteceu no começo da Afonso Pena. “Ele tentou fazer a ultrapassagem pela direita, no ponto de ônibus, aí eu com a seta acionada tentando encostar no ponto, mas ele não deixou veio um motoqueiro e passou e ele passou também. Só que ele não aceitou, parou na frente do ônibus, subiu na janela, começou a dar soco, e eu fiquei sem saber”.
De acordo com o motorista, William teve a chance de ir embora após a desavença no trânsito, mas preferiu discutir. “Eu joguei água nele para tentar acalmar, mas ele continuou, ficou ainda mais nervoso. Não acalmou o homem. Aí, meu amigo, ‘Macaco, macaco, macaco, macaco’ e foi falando ‘macaco’ e ‘filho duma égua’ e eu pensei: ‘Gente, o que está acontecendo com este homem’”, diz.
“Eu não desci do ônibus. Se a polícia não chega, a população que estava dentro do ônibus ia linchar ele. Os passageiros estavam falando que ele era racista, a população toda gritando ‘racista’. Queriam linchar ele”, diz.
“Minha filha é negra, mas mais clara, porque a mãe dela é bem clara. Eu tenho uma neta que é morena. E o marido da minha filha é mais claro que o senhor. E eles têm um filho que é da cor do senhor (repórter Renato Rios Neto, que conversou com a vítima), e aí eu fiquei pensando: ‘Será que meu neto vai me chamar de macaco também?’, eu pensei isso, porque ele branquinho. Por que a pessoa é branca tem que chamar o outro de macaco?", desabafa.
Foi arbitrada uma fiança no valor de R$ 5 mil para William José Santana, quantia não paga de acordo com a Polícia Civil (PC). Ele se encontra no sistema prisional.