Coperlidere
RR MÍDIA 3
Coronavírus

Ritmo do avanço da covid-19 no Brasil supera o registrado nos Estados Unidos

Pandemia

24/04/2020 09h07
Por:

Por Itasat

Desde o primeiro caso confirmado de coronavírus no Brasil já se passaram quase dois meses. Somente agora o país vai entrar na fase em que europeus e norte-americanos já enfrentaram. Quando se compara a situação entre os países é preciso considerar que o Brasil está em outro patamar da pandemia. 

O primeiro caso de covid-19 no Brasil foi confirmado no dia 26 de fevereiro. Neste sábado (25), o país completará 60 dias desde a confirmação. A mesma contagem, aplicada por exemplo aos Estados Unidos, mostra que, por lá, já se passaram mais de 90 dias desde o primeiro caso confirmado, no dia 22 de janeiro. 

Fo feito um levantamento para comparar a situação do Brasil com os norte-americanos e europeus quando eles também estavam prestes a completar 60 dias desde o primeiro registro de coronavírus. Os dados são disponibilizados pela Universidade Johns Hopkins, que contabiliza os números mundiais da pandemia. 

Após 30 dias do registro do primeiro caso confirmado da covid-19 no Brasil, o número de pacientes com a doença chegava a 3 mil e as mortes eram 57. Nos Estados Unidos, também 30 dias após o registro do primeiro caso, apenas 13 pacientes estavam com a covid-19 e nenhuma morte tinha sido registrada pela doença.

Quando a contagem chegou ao dia 57 no Brasil, na última quarta-feira (22), o número de casos confirmados chegava perto de 46 mil e as mortes já passavam de duas mil e 700. Nos Estados Unidos, em igual período, haviam cerca de 9 mil casos confirmados e pouco mais de 100 mortes. Ou seja, comparando Brasil e Estados Unidos, levando em conta o marco inicial dos casos em cada um desses locais, o Brasil tem um avanço muito mais rápido do que o registrado pelos norte-americanos. Vale fazer um acréscimo: a população brasileira é bem menor que a dos Estados Unidos.

A mesma lógica pode ser aplicada a países europeus, como Itália e Espanha. Ambos tiveram seus primeiros casos 20 dias antes do Brasil.Enquanto o país completa  60 dias desde o primeiro caso neste sábado (25), a Itália já está no dia 86 e a Espanha no 85. 

Nos primeiros 30 dias, os dois países europeus registraram menos casos e até menos mortes que o Brasil. Mas a curva por lá foi mais rápida passados os 57 primeiros dias. Enquanto Itália e Espanha estavam com aproximadamente 200 mil casos e mais de 20 mil mortes, o Brasil registrava no dia 57 perto de 46 mil casos e 3 mil mortes.

Mas a comparação não pode ser feita sem uma ressalva, a quantidade de testes realizados nesses diferentes países. Enquanto a Itália testa mais de 25 mil habitantes por milhão, a Espanha testa quase 20 mil e os Estados Unidos 13 mil, no Brasil o número não chega 1.500 testes por milhão de habitantes. Uma realidade que aponta para uma subnotificação dos dados brasileiros e para um cenário que pode ser pior do que o divulgado oficilamente pelas autoridades de saúde, como explica o professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rafael Ribeiro.

"O Brasil é um país que sofre mais, proporcionalmente, do que os outros países com casos de subnotificação.Significa que o Brasil, em relação aos outros países, tem feito menos testes nos casos de pessoas com suspeitas de coronavírus. Isso, obviamente, é muito ruim porque impede de fazer planejamento e projeções mais claras". 

Sem testes, o professor diz ser impossível saber o número real de infectados no Brasil. “Alguns estudos estimam que a taxa de subnotificação pode chegar até 20 casos para cada caso notificado. Ou seja, para cada pessoa identificada com coronavírus é possível que mais 20 tenham sido contaminadas”.   

O professor de economia ainda chama a atenção para o fato de que, mesmo cerca de um mês atrás do patamar de norte-americanos e europeus, os brasileiros querem definir por uma flexibilização ou não do isolamento tomando como base a realidade desses outros países, bem distinta da brasileira. "Estamos longe de chegar no pico", alerta o professor . Para ele, a flexibilização neste momento pode jogar fora todo esforço feito até agora.