Por EBC
Quanto maior a escolaridade de pais e mães, menor é a chance de suas filhas deixarem a escola por engravidarem. Uma pesquisa da plataforma Quero Bolsa investigou respostas do questionário socioeconômico do Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) de 2018 e constatou que cada degrau de escolaridade dos pais têm impacto nessa evasão.
Os pesquisadores analisaram as respostas de três perguntas do questionário aplicado a jovens e adultos que se inscrevem no exame para obter os certificados de conclusão do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio.
Além das duas questões sobre o grau de escolaridade do pai e da mãe dos candidatos, foi analisada a pergunta "De 0 a 5, qual a importância da maternidade e dos filhos para você evadir da escola?".
Entre as candidatas que disseram que seu pai não estudou, 56% responderam 4 ou 5 para o impacto da gravidez na evasão escolar, o que representa que consideram esse fator "forte" na decisão de parar de estudar. Quando a mãe não estudou, o percentual é ligeiramente maior, de 56,4%.
Os percentuais caem para 53% e 53,3% quando o ensino fundamental é adicionado ao currículo dos pais, e a queda continua para 47,3% e 47,1% no caso do ensino médio, e para 47,3% e 47,1% na graduação.
Entre as mulheres que tinham pai com especialização, 41,7% consideraram a maternidade um motivo forte para a evasão escolar - uma diferença de mais de 10 pontos percentuais em relação ao nível de escolaridade mais baixo.
Maternidade
No caso das mães pós-graduadas, o percentual de filhas que apontam a maternidade como motivo forte para evasão é de 42,8%.
A pesquisa também relacionou a importância atribuída à maternidade no questionário com a renda declarada pelas candidatas. Nesse caso, quanto menor a renda familiar, maior foi o percentual de mulheres que declararam que a gestação precoce pesou para sua evasão escolar.
No grupo que declarou ser de uma família com renda de até R$ 954 (o salário mínimo de 2018), 52,4% disseram que a maternidade foi um fator forte para a evasão escolar. No grupo com renda acima de R$ 5.724, esse percentual cai para 44,5%.
O diretor de ensino superior da plataforma Quero Bolsa, Lucas Gomes, disse que a pesquisa confirmou com dados uma percepção inicial de que os efeitos da educação permanecem nas gerações seguintes.
"A gente conseguiu notar essa relação clara de escolaridade e renda dos pais com o desempenho acadêmico dos filhos. Esse estudo mostra que, realmente, educação e renda têm um efeito geracional. Se você melhora para uma geração, filhos e netos também vão se beneficiar. Por outro lado, se pais e avós têm uma condição ruim, isso também acaba criando uma dívida histórica que a gente tem que lutar contra", afirmou.
Gomes acrescenta que, em termos práticos, o que precisa ser feito é buscar a universalização do ensino e o avanço da escolaridade em todos os níveis. "Tem que ser feito um investimento em todas as áreas. Qualquer ganho que a gente conseguir entregar vai ter um efeito positivo", finalizou.