Por Itasat
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu alerta de um possível primeiro caso de Candida auris nessa segunda-feira (7), no Brasil. De acordo com o comunicado, o fungo é considerado "uma séria ameaça à saúde pública". O C. auris foi identificado na sexta-feira (4), em amostra de paciente adulto que está internado em uma UTI na Bahia devido a complicações da covid-19.
O C. auris é considerado potencialmente fatal, pois é um fungo multirresistente, capaz de driblar vários medicamentos antifúngicos comumente usados para tratar infecções por Candida. Além disso, pode causar infecção em corrente sanguínea e outras infecções invasivas e ser facilmente confundido com outras espécies de leveduras.
Outra característica desse fungo é a capacidade de permanecer viável por longos períodos no ambiente, de semanas a meses, e apresentar resistência a diversos desinfetantes comuns.
Do ponto de vista laboratorial, existe a preocupação de possíveis surtos, uma vez que há uma dificuldade de identificá-lo pelos métodos laboratoriais rotineiros e de eliminá-lo do ambiente contaminado.
A amostra foi encaminhada para o Laboratório da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para a realização das provas confirmatórias.
A Anvisa recomendou o reforço da vigilância laboratorial do fungo em todos os serviços de saúde do país, além de medidas de controle e prevenção que minimizem a disseminação do patógeno.
Em 2017 a Anvisa havia emitido alerta em que afirmava que "o modo preciso de transmissão dentro do ambiente de saúde não é conhecido". Apesar de as evidências iniciais sugerirem que o organismo poderia se disseminar em ambientes médicos por contato com superfícies ou equipamentos contaminados, ou mesmo de pessoa para pessoa.
Um caso de C. Auris foi identificado pela primeira vez em humanos em 2009, em um paciente no Japão. Desde então, infecções pelo fungo ocorreram em vários países, incluindo Coréia do Sul, Índia, Paquistão, África do Sul, Quênia, Kuwait, Israel, Venezuela, Colômbia, Reino Unido e mais recentemente no Canadá e nos Estados Unidos.
O mesmo documento emitido pela Anvisa em 2017 cita que, no ano anterior, a Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) publicaram um alerta epidemiológico em função dos relatos de surtos de Candida auris em serviços de saúde da América Latina, recomendando aos Estados-membros a adoção de medidas de prevenção e controle de surtos decorrentes deste patógeno.
O primeiro surto detectado de C. auris na região das Américas foi relatado na Venezuela, entre março de 2012 e julho de 2013, na UTI de um hospital em Maracaibo. O surto afetou 18 pacientes, dos quais 13 eram pediátricos. Todos os isolados foram inicialmente identificados com Candida haemulonii, sendo que apenas após novos estudos se identificou que o microrganismo envolvido era C. auris.
Outro exemplo da dificuldade de identificação desse patógeno foi relatado em um surto ocorrido em agosto de 2016 em uma UTI do distrito de Cartagena, na Colômbia. Cinco casos foram identificados inicialmente como C. albicans, C.guillermondii e Rhodotorula rubra, mas após a realização de um teste mais complexo, chamado de MALDITOF, foram confirmados como C. auris.
O Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC/Atlanta/EUA) demonstrou que, dos surtos globais que têm investigado, quase todos os isolados são altamente resistentes ao fluconazol. Em sua análise, mais da metade dos isolados de C. auris eram resistentes ao voriconazol, um terço eram resistentes à anfotericina B e alguns resistentes às equinocandinas, indicando que as opções de tratamento são limitadas.
Este tipo de multirresistência não foi visto antes em outras espécies de Candida. Além disso, como os métodos de detecção de rotina não conseguem identificar C. auris, suas taxas de incidência e prevalência não são conhecidas ao certo, sendo, provavelmente, uma causa de candidíase mais comum do que é atualmente considerada.