Com Itasat
Foram vários contatos com Ana Castela na tentativa de uma entrevista. Um assessor passava para o outro que passava para outro, até que… conseguimos conversar via assessoria, por conta da agenda apertada da sensação do sertanejo: aos 18 anos, ela tem feito até 28 shows por mês rodando o Brasil.
Na sexta-feira (29), estava em Mato Grosso do Sul, no sábado (30), fez dois shows no interior de São Paulo e neste domingo (31), sobiu aos palcos em em Santa Terezinha do Itaipu, no Paraná. A próxima parada em Minas será em Alfenas, no dia 11 de agosto. Mas quem é o fenômeno do sertanejo que desbancou até Anitta no Spotify?
Ana Castela canta o que ela própria define como “popnejo”, mistura de pop com sertanejo, pitadas de funk e batidas eletrônicas. Em contato com a Itatiaia, via assessoria, afirmou estar ansiosa para mais um encontro com os mineiros. Ela já tocou em Campanha, Ouro Fino, Piranguçu, Virgínia e Santana do Garambéu. “Recebo muito carinho de vocês todos os dias, tanto meninos quanto meninas, que se identificam muito com meu trabalho. Isso é gratificante demais”.
As viagens têm sido feitas de ônibus. O veículo, comprado especialmente para ela e devidamente plotado com sua foto e o adjetivo "Boiadeira", chama a atenção por onde passa.
Uma ritmo impressionante para quem há um ano nunca havia subido em um palco, não considerava fazer carreira artística e a única referência musical era a própria mãe, Michele Castela, que fez uma tímida incursão pelo mundo da música na juventude.
'Vaqueiro Apaixonado' e uma coincidência
Aliás, a amizade de Michele com o empresário e compositor Rodolfo Alessi, de certa forma, ajudou a dar o ‘start’ na carreira da filha. Mas tudo aconteceu de forma casual e despretensiosa. Ana Flávia Castela tinha 17 anos e estava no primeiro semestre do curso de Odontologia, em Dourados (MS), quando veio a pandemia e ela se refugiou na fazenda do avô, no Paraguai.
Um dia, levou uns amigos pra lá e propôs gravarem a música “Vaqueiro Apaixonado”, de Loubet. “Na zoação, montei num cavalo e soltei a voz. Ficou tão bom que postei no Twitter e, do nada, eu já estava com 12 mil seguidores, tinha mais de um milhão de visualizações e muitas repostagens”.
A gravação chegou ao empresário Rodolfo Alessi, que ficou curioso em saber quem era aquela menina de voz grave, afinada e cheia de personalidade. Descobriu que era a filha de sua amiga de longa data, Michele Castela. Imediatamente, entrou em contato e propôs que Ana gravasse a música “Boiadeira”, que ele ajudou a compor. A condição: gravar novamente em cima de um cavalo. Ana topou e foi só postar para ter outro "bombando”. Seu instagram saltou de seis mil seguidores para os atuais 1,8 milhão de seguidores e seu Tik Tok passou dos 2 milhões.
Com esse aval do público, os próximos passos rumo ao estrelato e à fama aconteceram de forma meteórica. “Boiadeira” ganhou gravação profissional, com direito a clipe, e começaram a surgir convites para shows. A rotina de gravações, ensaios, entrevistas e novas composições ficou tão intensa que a cantora precisou se mudar para Londrina, no Paraná, onde mora Rodolfo, e onde uma nova cena do sertanejo já estava se desenhando.
Primeira geladeira
Ana largou a cidade natal, Sete Quedas (MS), de pouco mais de dez mil habitantes, trancou a faculdade de Odontologia e, a princípio, foi morar sozinha. No primeiro mês, vibrou de alegria ao comprar a primeira geladeira. “Nunca pensei que, aos 18, ia ter dinheiro para pagar uma coisa tão cara”, conta.
Ana gravou “Neon”, “Nois é da Roça, Bebê” (Aqui nóis é da roça, bebê /O sistema eu vou falar pro cê / Pra chegar no meu coração / Pega estrada de barro"), “As Menina da Pecuária” (As menina da pecuária é top, é top / Quando o berrante toca é mulherada no galope), um feat com Léo e Raphael, “Chama”, um feat com Luan Pereira ("Eu sem você /É tipo lida sem boiada, vaqueiro sem vaquejada") e “Clima de Rodeio”, consagrada por Rio Negro e Solimões.
"Pipoco"
Ana Castela está no topo da lista do Spotify das 50 músicas mais ouvidas do Brasil com a canção "Pipoco", cuja letra diz: “Meu beijo vai te viciar/Minha pegada vai fazer você gamar/Debaixo do meu chapéu, não vai mais sair/Eu sou o combo perfeito pra iludir, ê-ê”.
O nome, "Pipoco" foi uma ideia da própria artista. Ela disse que “sentiu que tinha uma música promissora em mãos”. Para ajudar a transformar em hit, contou com a parceria de Melody e do DJ Chris no Beat. Ana, que sonhava em conhecer São Paulo, já foi para a capital paulista cinco vezes.
Mas nem tudo são flores. A mãe e a irmã, de seis anos, foram morar com ela porque Ana perdeu muito peso e despertou a preocupação da família. “Quando eu estava cansada e com fome, chegava em casa e ia dormir. Acabei emagrecendo muito”, conta.
Ana também admitiu já ter tido crises de choro, após um show, quando foi cercada por fãs e os seguranças a impediram de conversar com eles. “Eu sei que estão fazendo o trabalho deles. Mas mexeu comigo. Me senti muito presa. Eu só queria conversar com aquelas pessoas”, explicou.
Representatividade que não existia
O fenômeno Ana Castela pode ser observado no comportamento dos fãs. Em pessoas como a produtora rural Viviane Duarte Vilarinho Nogueira, de 20 anos, que vive na fazenda Monte Alegre, distrito de São José do Jacuri, no leste de Minas, desde que nasceu. “Eu amo a Ana Castela. Aqui na cidade, todo mundo que eu conheço, ama”.
Viviane conheceu a cantora quando a irmã postou um vídeo da música “Vaqueiro Apaixonado” no status do Whattsapp. Na hora, ela pensou: “Meu Deus, essa mulher é bruta igual a mim e canta demais!”
A partir daí, a fazendeira procurou a cantora nas redes sociais e nas plataformas de streaming para acompanhar seus passos. “Quanto mais músicas ela lançava e eu ouvia, mais me sentia representada”.
Viviane trabalha com seus pais Selin e Vanessa: tira leite de vaca, capina o mato, cuida do gado e dirige trator. Ela acredita que a maior parte das pessoas tem uma visão estereotipada da mulher que lida na roça “como se a gente fosse só aquilo e não pudesse ser feminina, usar batom e gostar da balada. A Ana chegou quebrando esse tabu”, opina. E cita a letra da música "Neon", que diz:
“Não é porque eu sou da roça
Que eu não rodo no asfalto
Eu posso até andar de carro
Mas prefiro o meu cavalo (...)
Aumenta o som, acende a luz neon
Que mulher bruta pode rebolar e ser bagaceira (...)
Essa cidade tem que respeitar as boiadeiras”.
“Agora, toda resenha nossa, tem que ter Ana Castela”, diz Viviane, acrescentado que se pudesse mandar um recado para a cantora seria: “que ela continue divulgando a cultura do agro, valorizando o trabalho, o estilo e a beleza das mulheres que lidam na roça”.
SERVIÇO:
Show da Ana Castela em Alfenas
Data: 11 de agosto de 2022 (quinta-feira) , às 22h
Classificação: 18 anos
Local: Espaço Z
Rua Caiabís, 216 - Vila Teixeira - Alfenas (MG)