Há 100 anos, o médico Ezequiel Caetano Dias morreu, em Belo Horizonte, em decorrência da tuberculose. Hoje, a fundação que leva o seu nome é referência no diagnóstico da doença, sendo coordenadora da Rede Laboratorial da Tuberculose em Minas Gerais, atuando na capacitação de profissionais envolvidos no diagnóstico, na supervisão técnica em laboratórios da rede e como membro do Comitê Estadual para Combate à Tuberculose, em conjunto com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) .
A doença deve ser relembrada não somente hoje, Dia Nacional de Dia Nacional de Combate à Tuberculose (17/11), como durante todo o ano. Isso porque apesar do intenso trabalho e de todos os estudos e avanços no diagnóstico e tratamento, ela continua sendo um sério problema de saúde pública, não somente em Minas Gerais, como em todo o Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, somente em 2021, foram registrados 72,6 mil casos novos, e 4,7 mil mortes pela doença em todo o país. Desses casos, 1.188 pessoas desenvolveram tuberculose resistente a medicamentos.
Para a responsável técnica pelo Laboratório de Tuberculose e outras micobacterioses, do Serviço de Doenças Bacterianas e Fúngicas (SDBF) da Fundação Ezequiel Dias (Funed) , Élida Aparecida Leal, esses números revelam que a doença ainda é considerada negligenciada quando, por exemplo, tem-se em mente o desenvolvimento de pesquisas que enfoquem novos fármacos. "Na nossa vivência diária, percebemos que muitas vezes ela é negligenciada inclusive por profissionais de saúde que acham que ela não existe mais e deixam de investigá-la em pacientes que apresentam sintomas clássicos da infecção. A negligência pode ser avaliada, entendida e enxergada de um ponto de vista mais amplo, não só em termos de pesquisa, mas em termos do próprio profissional de saúde e da população em geral", avalia a farmacêutica bioquímica.
Autoridades das esferas municipal, estadual e federal se dedicam a compreender melhor a doença e elaborar estratégias para combatê-la. Entre elas, está o Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose, que possui quatro fases de execução. Ele está aprovado em portaria pelo Ministério da Saúde e foi elaborado com a participação da sociedade civil, pesquisa e coordenações locais da doença. Ao final de cada fase de execução, o plano é revisto e passa por consulta pública. Entre as metas, até 2035, está a redução da incidência em 90% e a diminuição das mortes em 95%. Os valores de referência são do ano de 2015.
A Funed atua no primeiro pilar do plano, que é a prevenção e cuidado integrado centrados na pessoa com tuberculose. Ou seja, a partir do momento em que a fundação oferece um diagnóstico oportuno de qualidade, as chances do paciente receber um tratamento adequado e se curar são maiores. A referência técnica da Funed explica que o diagnóstico assertivo da tuberculose só poderá ser feito a partir do momento em que o fluxo de exames for obedecido. Com esse intuito, o Ministério da Saúde, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), definiu protocolos que determinam uma série de exames ao qual o paciente deve ser submetido.
"Ao receber um diagnóstico correto, o paciente pode iniciar imediatamente o uso dos antibióticos específicos para o combate da infecção e, ao respeitar a prazo de tratamento recomendado pelo médico, aumenta as possibilidades de cura e reduz a chance de óbito”, sinaliza Élida Leal. É nesse contexto de um diagnóstico assertivo que a Funed, no seu papel de laboratório, contribui para o cumprimento do plano de combate à tuberculose. “É necessário, contudo, um trabalho alinhado e uma parceria entre o laboratório, que processa a amostra do paciente, e também das unidades que fazem o acolhimento e assistência desse paciente", complementa.
Em nível estadual, foi desenvolvido o Plano pelo Fim da Tuberculose, de forma articulada e pautada no plano nacional. Segundo a subsecretária de Vigilância em Saúde da SES-MG, Hérica Vieira Santos, há uma atuação conjunta entre a Secretaria e a Funed na vigilância de doenças e agravos, pelo compartilhamento de informações sobre diagnóstico e vigilância laboratorial, além do suporte para a realização das capacitações.
"Além disso, a Funed contribui com as ações da SES-MG por meio da realização de inquéritos e levantamentos epidemiológicos, que são fundamentais para entender a situação epidemiológica das doenças negligenciadas como um todo. Especificamente em relação à tuberculose, a Coordenação de Tuberculose auxilia na organização da rede laboratorial da tuberculose no estado, principalmente no que se refere ao Igra, teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB), cultura de escarro e teste de sensibilidade", explica a subsecretária.
Exames realizados
A Funed realiza e oferta à população a cultura para tuberculose e o teste de sensibilidade aos medicamentos, sendo este último exclusivo da Fundação. "Somos o único laboratório no estado a realizar esse exame, pois temos a estrutura necessária para manuseio da bactéria, que é isolada da amostra do paciente. É o chamado Laboratório de Nível de Biossegurança III, sendo a Funed a única no estado em Minas Gerais a possui-lo", reforça a responsável técnica pelo Laboratório de Tuberculose.
A importância desse teste, que identifica a tuberculose resistente, segundo Élida Leal, é mostrar ao profissional de saúde se o paciente está respondendo bem ao tratamento. A partir do momento em que é realizada a cultura da amostra, a bactéria que estava no escarro do paciente é isolada e testada, ou seja, é colocada na presença dos medicamentos que o paciente está recebendo no tratamento. "É por meio desse teste que o médico consegue avaliar clinicamente o paciente e determinar se ele está ou não respondendo bem à terapia que foi administrada. Se for verificado que a resposta do paciente não está sendo satisfatória, ou seja, não havendo melhoria nos sintomas, o médico pode alterar o esquema de tratamento, introduzindo novos medicamentos, ou pode prolongar por um tempo maior que seis meses o esquema inicial, visando à cura desse paciente", ressalta a referência técnica da Funed.
A doença
A tuberculose é uma doença contagiosa que acomete principalmente os pulmões e tem como um dos principais sintomas a tosse por três semanas ou mais. Outros sintomas clássicos são febre baixa, perda de peso e falta de apetite. Caso a pessoa esteja com esses sintomas, ela deve se dirigir a uma unidade de saúde, aonde será avaliada por um médico que, por sua vez, irá fazer a solicitação de um exame para coleta de escarro. "É esse escarro que vai ser submetido a exames específicos para diagnóstico da tuberculose e, confirmando a infecção, a pessoa deve iniciar o quanto antes o tratamento, que é feito com antibióticos", detalha Élida Leal. O tratamento da tuberculose dura no mínimo seis meses, é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com dados do Sinan, algumas populações são mais vulneráveis ao adoecimento:
• Pessoas vivendo com HIV (PVHIV) têm 20 vezes mais risco de adoecer por tuberculose
• Pessoas privadas de liberdade têm 26 vezes mais risco de adoecer por tuberculose
• Pessoas em situação de rua têm 54 vezes mais risco de adoecer por tuberculose
• A população indígena tem três vezes mais risco de adoecer por tuberculose
Série especial
A Funed iniciou, nesta quinta-feira (17/11), a publicação de uma série de conteúdos com foco em sua atuação no apoio ao controle das doenças negligenciadas. Além da matéria de estreia sobre tuberculose, também serão abordadas: leishmaniose visceral humana, malária, hanseníase, doença de Chagas e acidentes com animais peçonhentos.
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