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Alerta

Uso exagerado de fármacos leva à medicalização da vida

Afinal, é preciso estar sempre bem para conseguir desempenhar as tarefas

27/02/2020 10h27
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Foi-se o tempo em que escutar música romântica acalmava dores de amor ou que tomar suco de maracujá ajudava a dormir. Hoje, ao menor sinal de dor ou sofrimento, algum medicamento é logo indicado para resolver qualquer problema. Mas nem sempre essa é a melhor saída, sendo necessário ir mais profundo na dor para descobrir suas causas e, só assim, tratá-las. Isso, com ou sem medicamentos. Do contrário, o risco que se corre é o da medicalização da vida.

A professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Cristiane de Freitas Cunha Grillo, afirma que a medicalização, isto é, o uso exagerado de medicamentos, reflete o modelo da nossa economia, sempre em busca de um resultado mais imediato. Afinal, é preciso estar sempre bem para conseguir desempenhar as tarefas, e os fármacos são uma saída para uma recuperação mais rápida.

De acordo com a professora, o empobrecimento da clínica médica, que não busca entender o que o paciente realmente demanda, e o crescimento da indústria farmacêutica também pode levar à medicalização. 

Em muitos casos os medicamentos são fundamentais e, muitas vezes, não são usados, agravando o quadro do paciente. Mas isso não caracteriza a medicalização.

Cristiane de Freitas Cunha Grillo explica que o termo é empregado quando os fármacos são usados para a resolução de problemas que são inerentes à condição humana, como o luto e a tristeza e até um certo mal-estar de existir. É como se os medicamentos pudessem resolver esses problemas, mas os fármacos nem sempre são necessários.