Embora haja registros de tremores de terra na região há vários anos, a frequência com que eles têm ocorrido nos últimos três anos é, no mínimo, estranha. Desde abril de 2022 até hoje foram 26 abalos sísmicos, felizmente, de pouca intensidade. Vale lembrar que toda a região é cárstica, caracterizada por seu relevo com dissolução/corrosão de rochas, formando uma série de feições como cavernas, grutas, lapas, abrigos, dolinas, rios subterrâneos, paredões rochosos, lapiás, entre outros. O que, a princípio, facilita a captação de águas subterrâneas, principal fonte de abastecimento de Sete Lagoas por décadas, por outro lado leva a tremores ocasionais, que podem ser de baixa ou de alta intensidade (escala Richter).
E não é só Sete Lagoas que vem sofrendo com os abalos sísmicos. Várias cidades mineiras vêm registrando esses tremores, alguns até de maior intensidade, nos últimos anos. Apenas em 2023, dezenas de tremores foram registrados em várias cidades mineiras, como Poços de Caldas, Frutal, Itabirito, Araxá, Bom Sucesso, Rubim e Tiradentes, Conselheiro Lafaiete, entre outras, inclusive em cidades próximas a Sete Lagoas, como Capim Branco, Prudente de Morais, Felixlândia e São José da Lapa, com magnitudes variando de 1.8 (Teófilo Otoni) a 3.2 (Martinho Campos e Três Marias).
Diante desse novo desafio, a Prefeitura de Sete Lagoas vem realizando várias ações para compreender o fenômeno. Assim, em maio de 2022, o Município protocolou ofício endereçado ao chefe do Observatório Sismológico da UnB, pesquisador Dr. Marcelo Peres Rocha, e aos professores Dr. Marcelo Bianchi, Dr. Marcelo Assunção e Dr. José Roberto, do Centro de Sismologia da USP, solicitando cooperação para estudos e informações a respeito dos abalos sísmicos na cidade. Além disso, um grupo de trabalho foi instituído por meio da Portaria Nº 14.630/2022, para elaborar uma análise e relatório de avaliação de vulnerabilidade sísmica do município.
Em junho daquele ano, a Defesa Civil Estadual foi chamada para apoiar o município em ações de orientação junto à população e uma cartilha foi lançada pela Defesa Civil Municipal. Ainda naquele mês o grupo de trabalho fez sua primeira reunião virtual com o pesquisador Dr. Paulo Roberto Antunes Aranha, professor do Instituto de Geociências do Departamento de Geologia da UFMG e, no mês seguinte, com o Major Eduardo Lopes (Defesa Civil Estadual), o Sargento Luiz (19ª RISP) e o professor do Centro Sismológico da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Assumpção.
Já em agosto foi anunciada a instalação de seis sismógrafos em diferentes pontos do município, em uma parceria com o Centro de Sismologia da Universidade de Brasília (UnB). Em poucos dias a equipe da universidade instalou os equipamentos na cidade. Duas semanas depois a equipe esteve de volta coletando os primeiros dados para análise. No total, foram aproximadamente sete meses em que os sismógrafos registraram tremores na região, diferenciando inclusive o que se tratava de ação humana (explosões) e causas naturais (tremores). Um desses registros, inclusive, ocorreu com a presença da equipe de pesquisadores da UnB na cidade, em dezembro de 2022.
O ano de 2023 foi mais tranquilo, com apenas duas ocorrências registradas na cidade: uma em abril e outra em maio. Já 2024 começou com forte atividade sismológica, com uma ocorrência no último domingo, 14, e três ocorrências seguidas nesta terça, 16. Todas, porém, com baixa intensidade (entre 2.2 e 2.8 graus na escala Richter). Após um período de análise dos dados dos sismógrafos instalados na cidade, o Centro Sismológico da UnB entregou o relatório final.
Resultados
Segundo o relatório, no total, "catalogamos 48 eventos como sismos naturais na região até o momento. Durante o período de monitoramento, registramos um total de 625 eventos locais (a uma distância inferior a 150 km). Destes, apenas sete eventos ocorreram de forma natural. Notavelmente, somente quatro desses eventos tiveram epicentro dentro dos limites do município de Sete Lagoas".
Por outro lado - segue o relatório - observamos um número considerável de 618 eventos artificiais, com a maioria concentrada nas cidades de Itabirito, Santa Bárbara, Itabira e Conceição do Mato Dentro. Apenas seis eventos foram registrados diretamente no município de Sete Lagoas. "Dos sete eventos naturais registrados, estimamos a razão Vp/Vs em 1,71, valor que se encontra dentro das expectativas para a região do Cráton São Francisco (SFC). Essa atividade sísmica ocorre na interface entre o limite tectônico do SFC e a bacia, com uma direção predominante no sentido Noroeste-Sudeste", diz a conclusão do estudo.
Ao comparar esses eventos com as falhas mapeadas e as posições epicentrais de terremotos significativos, os pesquisadores da UnB identificaram segmentos de falhas considerados ativos ou potencialmente ativos, representando um passo inicial na identificação de fontes sísmicas associadas a essas falhas. "É fundamental ressaltar que, embora Sete Lagoas seja uma área de baixa sismicidade, a densidade populacional torna qualquer evento sísmico de baixa magnitude mais impactante. No entanto, isso não garante que não ocorrerão tremores de maior magnitude no futuro, mas indica que a probabilidade ainda é baixa. Portanto, é de extrema importância que as autoridades locais e os moradores estejam cientes do risco sísmico e estejam preparados para responder a um eventual tremor de maior magnitude, garantindo a segurança da população", conclui o relatório.
Novos sismógrafos
Na tarde desta terça-feira, 16, o secretário municipal de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Agropecuária de Sete Lagoas, Edmundo Diniz, anunciou uma nova parceria com o Centro Sismológico da UnB para a instalação de oito novos sismógrafos na cidade. "Nesta quinta os pesquisadores vão montar um centro sismológico em um raio ainda maior. Não descartamos nenhuma hipótese. Queremos ratificar o estudo já apresentado para tranquilizar a população. Lembrando que os maiores fiscais do município são os olhos do povo. Se identificar alguma detonação ilegal, extração ilegal de minério, desmatamento, entre outros, denuncie na Guarda Municipal, na Polícia Ambiental ou na Secretaria de Meio Ambiente", completou o secretário.
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