Por Itasat
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, admitiu a auxiliares ter cometido um erro estratégico ao elevar o tom do embate com o presidente Jair Bolsonaro sobre a conduta do governo federal no enfrentamento ao novo coronavírus e deve submergir, nos próximos dias, para sair do foco da crise. Aliados de Bolsonaro, no entanto, veem com descrença a promessa do ministro de fazer uma espécie de "voto de silêncio" sobre suas divergências com o presidente.
Bolsonaro se reuniu nessa terça-feira (14), no Palácio da Alvorada, com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que é do mesmo partido de Mandetta. Nos últimos dias, ele tem conversado com dirigentes de siglas do Centrão, que interpretaram o movimento como uma preparação de terreno para a saída do ministro da Saúde.
"O presidente já abriu esse diálogo e deve partir para a indicação de um técnico no ministério", disse o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO). "Enquanto Mandetta não sair ou for demitido, esses problemas vão continuar e Bolsonaro ficará mais desmoralizado".
Desde o início do mês, Bolsonaro já recebeu parlamentares e dirigentes do PP, PL e Republicanos e hoje deve conversar com o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Todos os partidos compõem o Centrão.
Mandetta perdeu apoio de militares do governo - que viram em sua entrevista de domingo ao Fantástico, da TV Globo, um tom de provocação - e até de alguns aliados em secretarias estaduais da Saúde. Integrantes do ministério observaram que, embora esteja defendendo orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mandetta adotou tática errada ao falar em "dubiedade" na equipe sobre medidas para combater a pandemia.
Mesmo depois de alertado por militares sobre a necessidade de não expor diferenças com Bolsonaro em público, o ministro dobrou a aposta e seguiu contrariando o presidente sobre temas como isolamento social e uso da cloroquina em pacientes diagnosticados com coronavírus. A entrevista ao Fantástico pegou Bolsonaro de surpresa e as declarações de Mandetta foram encaradas como um ato premeditado de quem quer forçar a demissão.
Auxiliares do presidente observam que ele só não dispensou o ministro ainda porque faz um cálculo pragmático.
Pesquisas mostram que Mandetta, hoje, é mais popular que Bolsonaro e sua demissão, neste momento, agravaria a crise. Atualmente, os cotados para substituir o titular da Saúde são a médica Nise Yamaguchi e o deputado Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro.
Saída
Em conversas reservadas, Mandetta já chegou a confidenciar que só não toma a iniciativa de deixar o governo por receio de ficar com o ônus de quem abandonou "o barco" - ou "o paciente", como tem dito - no momento mais dramático.
Após participar nesta terça de reunião ministerial com Bolsonaro no Planalto, Mandetta foi questionado por jornalistas se eram verdadeiras as análises feitas no próprio governo sobre sua intenção de forçar a saída da equipe.
"Não vejo nesse sentido. (O que houve) foi mais uma questão relacionada à comunicação, a como vamos comunicar. Nada além disso", disse ele. "Sabemos de nossa responsabilidade e estamos trabalhando com toda a garra".