Por itasat
Novas denúncias de abusos sexuais de menores que teriam sido praticados em Várzea da Palma, no Norte de Minas, têm vindo à tona. O suspeito, Dinamá Pereira Resende, de 54 anos, é pedreiro contratado pela prefeitura da cidade. Ele atuava há 30 anos com crianças em atividades culturais e religiosas.
Muito conhecido na cidade, que tem 39 mil habitantes, o homem conquistou ao longo dos anos a confiança das famílias e de milhares de crianças e chegou a ser candidato a vereador. O encanto mudou em outubro do ano passado, quando Ana Paula Fernandes dos Santos, hoje com 25 anos, casada, mãe de duas meninas e de um menino, decidiu procurar a delegacia.
A técnica em enfermagem, que atua em um hospital de Sete Lagoas, na região Central de Minas, conta que, ao pensar nos filhos e em outras crianças, resolveu denunciar os abusos que sofreu em 2004, quando tinha 9 anos, mesma idade da filha mais velha dela.
Ana Paula relata que o estupro foi cometido na casa de Dinamá durante um comício. Ela afirma que foi induzida por ele a ir à residência para buscar santinhos da campanha eleitoral. “Quando chegou lá, ele me levou para o quarto, tirou minha roupa e começou a tentar a penetração e tudo. Só que reclamei de dor, comecei a chorar e acho que ele ficou com medo de algum vizinho escutar. Ele mesmo vestiu minha roupa todo desconjuntado, me colocou na moto e me levou me levou embora. Não contei nada para a minha mãe. Não tinha coragem, tinha vergonha, tinha medo e achava que a culpa era minha”, relata a vítima.
Entre as atividades que o investigado desenvolvia com as crianças havia o grupo de dança “Dinamá Dhow”, em que onde as meninas que participavam eram chamadas de “dinamitas”. Ana Paula era uma delas. Dinamá também coordenava folias de reis mirim, coral, time de futebol, programas de rádio e terços que eram ensinados para as crianças em suas casas. Ele criou, inclusive, uma liga católica mirim, em 1987, intitulada por ele de Grupo Católico Social.
Segundo os depoimentos, o suspeito se aproveitava da fé para cometer os crimes. “Quando eu vi a história do João de Deus, vi bastante semelhança sobre os casos, porque ele se esconde muito em religião para fazer essas coisas”, diz Ana Paula.
Outras vítimas
Daniele Cordeiro Ferreira, hoje com 34 anos, casada e mãe de 4 filhos, também procurou a Justiça. A mulher, que mora em Curitiba, conta que foi motivada pela atitude de Ana Paula, que postou a denúncia no Facebook. Daniele também tinha 9 anos. “Até então, achava que era só eu como vítima”, disse ela, que naquela noite dormiria na casa de Dinamá porque no dia seguinte viajaria para uma apresentação musical.
“Quando acordei de madrugada ele estava em cima de mim. Eu estava nua da cintura para baixo e ele também. Ele estava forçando a penetração quando eu acordei. Doeu muito. Espero que a Justiça seja feita”, diz a vítima.
Onze vítimas acionaram a advogada Ana Luiza França. A 12ª foi descoberta por meio de investigação da Polícia Civil. A defensora diz que as vítimas tinham de 8 a 12 anos. A enteada de Dinamá está entre elas.
“As denúncias são diferentes, mas com detalhes muito iguais. Por exemplo: tem casos em que os abusos foram cometidos dentro da residência do suspeito. Em outros há relatos de as meninas terem sofrido abusos durante rezas, no centro pastoral da cidade. Tem casos de abusos dentro da casa de terceiros e de quando tinha reza do terço das crianças. Sempre ligado à reza, oração ou algum evento religioso”, conta a advogada.
Outras duas meninas, com idades entre 10 e 11 anos, relataram à polícia que sofreram os abusos na casa da avó de uma delas, em 2018. No dia 27 de julho, o Ministério Público encaminhou uma proposta de ação penal sobre esses dois casos.
Após a conclusão do inquérito dos outros casos, em janeiro deste ano, a Polícia Civil pediu a prisão preventiva de Dinamá, que foi atendida pelo Ministério Público, mas negada pela Justiça.
Segundo reportagem da Agência Pública, na decisão, de 19 de dezembro de 2019, o juiz Pedro Fernandes Alonso Alves Pereira alegou que havia alternativas, não sendo necessária a prisão naquele momento.