Um argentino de 49 anos foi preso no último dia 21 de dezembro, em Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte, por injúria racial. O homem, que é engenheiro, cometeu o crime contra funcionárias de um hotel de luxo, o eSuites Lagoa Santa, depois de um desentendimento sobre o pagamento da hospedagem. Por meio de nota (leia na íntegra abaixo), o empreendimento repudiou o crime e disse prestar assistência aos colaboradores envolvidos.
O hóspede, Jesus Gabriel Marin, foi levado para o presídio de Lagoa Santa ainda no dia do fato, mas foi liberado depois de conseguir um alvará de soltura. De acordo com a PM (Polícia Militar), duas trabalhadoras foram listadas como vítimas no registro da ocorrência. A anotação ainda aponta que o homem tinha hálito etílico no momento da abordagem.
Uma delas relatou ter sido chamada de “macaca” e a outra de “negra filha da p****”. Testemunhas confirmaram as ofensas e, em entrevista, o homem confirmou ter xingado uma delas de “negra filha da p****”. Ele negou, no entanto, que tenha se referido a qualquer pessoa como “macaca”.
A funcionária de 30 anos disse que o argentino estava hospedado no local há cerca de uma semana, mas que o crédito de diárias dele foi excedido em R$ 2 mil por falta de pagamento. Ela precisou cobrar o homem e foi orientada a não liberar a entrada no quarto sem que o pagamento fosse realizado. Foi então que o homem foi até a recepção e proferiu as ofensas contra ela.
A outra vítima, de 26 anos, explicou que o homem também a chamou de “macaca” em outra ocasião e que “repetia a todo momento que ela era uma macaca”. “Macaca de trança” e “macaca moderna” teriam sido as ofensas proferidas contra ela.
Além disso, as duas vítimas relataram que o engenheiro ainda disse, em diversos momentos, durante o desentendimento, que queria vê-las demitidas do hotel. No registro policial, pelo menos três testemunhas confirmam as versões apresentadas pelas funcionárias.
Na versão do engenheiro, também registrada pela PM, ele afirmou ter chamado uma das funcionárias de “negra filha da p***”, mas que em momento algum se referiu a ninguém como macaco.
Segundo o argentino, ele pagou a hospedagem de forma antecipada, mas teve a porta do quarto bloqueada mesmo assim. O homem também relatou que, ao chegar da rua, viu a mulher e os filhos chorando no local. Ele disse que um dos filhos chegou a passar mal e a sofrer um ataque epilético.
Em entrevista ao UOL, o autor, Jesus Gabriel Marin, disse ter enfrentado diversos problemas no hotel ao longo da semana, em relação à estrutura e ao atendimento. Ele ficou preso até o dia 23 de dezembro, quando recebeu o alvará de soltura.
O homem relatou que teve a porta do quarto bloqueada por três vezes e que na terceira ficou irritado com uma das funcionárias, proferindo a ofensa racista. “Agora você pega essa negra filha da puta e manda embora agora. Em vez de chamar uma ambulância [para o filho epiléptico], chamaram a polícia. Aí piorou tudo. Eu não sou de arrumar confusão”, contou ao UOL.
Por meio de nota enviada ao BHAZ, o Hotel eSuites disse “repudiar, de forma veemente, o ato criminoso cometido por hóspede contra os colaboradores do hotel”. No texto, diz ainda que a “injúria racial sofrida pelos colaboradores causou profunda indignação a todos os demais colaboradores e à administração do hotel”. Confira a nota na íntegra abaixo.
A injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Já o racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível.
“O Hotel eSuites Lagoa Santa vem a público, por meio desta nota, repudiar, de forma veemente, o ato criminoso cometido por hóspede contra os colaboradores do Hotel no dia 21/12/2019. A injúria racial sofrida por nossos colaboradores causou profunda indignação a todos os demais colaboradores e à administração do hotel, que desde a data do fato vem disponibilizando a eles toda a assistência que necessitam, inclusive de seu corpo jurídico. Confiante no trabalho das Polícias Militar e Civil e do Poder Judiciário, que invariavelmente demonstraram eficiência e rigor na condução de casos como este noticiado, espera a exemplar Justiça, sobretudo para que atos como este não mais se repitam em nossa sociedade.”